domingo, 24 de abril de 2011

Só as populações civilizadas serão assim tratadas

Por João Bosco Leal

Algo me chamou a atenção e, ainda sentado, olhando pela sacada de meu apartamento pude ver, em plena luz do dia, quando um homem espancava uma mulher na pista central de uma avenida bastante conhecida e movimentada da cidade, defronte a uma grande revendedora de bebidas localizada próxima de casa.


Distante meia quadra do local, e com uma visão privilegiada pois resido no 11º andar, via tudo de frente. Imediatamente liguei para o 190 da polícia relatando os fatos, e o atendente, após todas as formalidades de identificação, me informou o número do protocolo do atendimento e disse que enviariam uma viatura.


O agressor, depois de mais alguns safanões deu um soco tão forte na mulher que ela caiu, parecendo haver desmaiado. Um veículo que se aproximava pela mesma pista desviou, e seguiu adiante sem nada fazer, assim como nenhum dos funcionários da empresa de bebidas, que estavam carregando um caminhão com mesas e cadeiras, se moveu para prestar qualquer tipo de socorro àquela mulher caída no centro da avenida.


Veículos continuavam se desviando mas ninguém parou. A vítima se levantou e cambaleante foi em direção à calçada da distribuidora. O agressor que agora estava do outro lado cruzou a avenida em direção a ela, e ficaram defronte a distribuidora, onde agora não conseguia vê-los pois a copa de uma árvore me impedia.


Liguei novamente para o 190, pois as agressões continuavam e até aquele momento nenhuma viatura policial chegara. O novo atendente demorou bastante em localizar a denuncia anterior e eu pude descrever as vestimentas do casal, para sua melhor identificação, solicitando que ele informasse a viatura via rádio.


Pude ver quando a mulher começou a descer a avenida com dificuldades e, antes de atingir a esquina já havia caído duas vezes. Como existe uma delegacia localizada na mesma avenida, exatamente oito quadras dali, e a viatura não chegava, liguei pela terceira vez para o 190.


O policial, que já me atendera no segundo telefonema, alegou que ainda não haviam chegado pois só faziam 14 minutos que eu ligara, e naquele trecho haviam muitos semáforos que impediam a locomoção mais rápida da viatura policial.


Liguei então para a Delegacia da Mulher e fui informado por uma pessoa que fazia a guarda do local que, como era quinta feira santa, a delegacia estava fechada e eu deveria ligar para o 190. Liguei pela quarta vez, quando me atendeu uma policial e imaginei que, com uma mulher me atendendo, talvez tomassem providências.


Informei que o agressor adentrara em uma casa abandonada defronte a distribuidora, e a vítima caminhava pela rua onde moro, caindo bastante, mas já estava quatro quadras distante. Sugeri que dessem prioridade no atendimento a ela, pois certamente necessitaria de socorros médicos, e o agressor estava em local fixo.


Ainda observando tudo da sacada pude ver quando a viatura chegou ao local e parou exatamente defronte a casa abandonada. Um policial nela adentrou e saiu logo em seguida para pegar uma prancheta com papéis na viatura. Voltou então para o interior da casa e pouco depois saiu, entrou na viatura e partiram, sem levar o agressor e sem sequer entrar na rua por onde caminhava a vítima.


Comecei a fazer alguns questionamentos como: Que cidadãos são esses, que presenciam uma ocorrência dessas, desviam seu veículo, mas não se envolvem? E os funcionários da distribuidora que nada fizeram? A polícia atende tantos casos semelhantes que sequer leva o agressor para prestar depoimento na delegacia?


Se não temos educação suficiente sequer para impedir agressões físicas, até em vias públicas, sem que ninguém se importe ou se envolva, claramente não somos uma população civilizada, e não podemos pleitear que outros países nos tratem civilizadamente.


6 comentários

  1. Jose Mario Junqueira de Azevedo Filho

    joão, uma população que age desta forma, diante de um fato horroroso, comete o crime da negligência e da omissão juntamente com os agentes publicos.

  2. Anita Marcondes

    Chocante, João! Eu de verdade, não sei de quem tenho mais medo, se da polícia ou do ladrão… Mas posso lhe dar uma sugestão? Da próxima vez chame o resgate. Eles nunca negam atendimento, e enquanto atendem a vítima, chamam a polícia e aí ela vem rapidinho, porque senão estão fritos! Dia desses eu estava numa lojinha aqui perto tirando um xerox quando ouvi gritos na rua. Imediatamente sai pra fora e vi um homem sendo espancado por dois garotos armados com pedaços de pau. Já tinha juntado um bocado de gente e ninguém fazia nada. Gritei na hora com os agressores: parem, vcs vão matar o cara! Eles pararam de bater e gritaram de volta: esse vagabundo acabou de invadir nossa casa!, ao que retruquei, tá bom, mas por causa de um ladrão vcs vão cometer um crime de morte? Vão se sujar? Ele já está no chão, não vai conseguir fugir, mas vcs podem ficar limpos. Os garotos foram embora, depois de me agradecer. Fiquei com o agredido até a polícia chegar. Já tinham chamado a polícia e o resgate, a meu pedido, que eu estava sem bolsa, sem celular. O ladrão foi socorrido e depois autuado. Depois te conto em particular um desdobramento deste fato, que me fez aprender muito sobre os que se omitem. O certo é que depois desse desdobramento, tenho mais medo dos omissos…

  3. Angela

    João porque você não correu para socorrê-la? desculpe-me se faço esta pergunta, sei que você ligou para a polícia, sei que tentou da forma mais óbvia, mas porque não correu até ela e a judou de forma direta?Talvez se alguém tivesse gritado com ele na rua ou tentado impedir, outros teriam se juntado contra este abuso…

  4. Ângela,

    Como já deve ter notado, tenho como parâmetro não responder a nenhum comentário no blog, onde pretendo deixar que todos tenham a maior liberdade, sem o risco de serem rebatidas.

    Entretanto, como a pergunta demonstra sua indignação com a situação, que também foi a minha, achei que merecia uma resposta.

    Certamente você não leu alguns de meus textos anteriores, mas só comecei a escrever depois de um acidente, que me deixou entre cama e cadeira de rodas por 2 anos e meio, período em que passei por 13 cirurgias.

    Sei que isso não justifica completamente sua pergunta, mas só comecei a andar sem ajuda de acessórios como andadores e muletas agora em Novembro, e mesmo assim lentamente, pois fiquei com dificuldade de locomoção em virtude de uma diferença de 4cm entre uma e outra perna, e não possuir mais movimentos nos pulsos, o que faz com que tenha que ter muito cuidado para não cair, e, consequentemente, andar mais lentamente ainda.

    Além disso, com o disse no texto, aparentemente estava próximo, mas na realidade estava meia quadra abaixo e mais meia de lado da rua onde aconteciam os fatos, e ainda no 11º andar, motivos que me levaram a entender que, até que eu descesse e caminhasse até o local a mulher já teria sido muito mais agredida.

    Sei que agora, friamente pensando, talvez nada disso justifique minha atitude, mas foi o que pensei, e o que pude fazer no momento, e, se não foi a atitude correta, talvez tenha sido a “possível” para mim.

    Me perdoe se a decepcionei como ser humano, e sei que isso é horrível, pois foi o que senti em relação às pessoas, saudáveis, que por lá estavam ou passavam e nada fizeram, inclusive a polícia.

    Um grande abraço, e parabéns por ser uma pessoa assim, que ainda se incomoda com um crime desses, pois me parece que já somos poucos.

    João Bosco

  5. Neni Metello

    João
    Essa situação que vc passou é parecida com o filme Janela Indiscreta do Hitchcock. Deves ter sentido uma impotencia muito grande. Penso que vc fez o correto chamando a policia. É muito perigoso o envolvimento direto nesse tipo de conflito.
    Abraço
    Neni

  6. Zeito

    Caro amigo João
    Somente dando para a população BRASILEIRA educação, saúde, trabalho e segurança, melhoraremos. Francamente tenho dificuldade em eleger o que é mais importante!!!
    Zeito


Matéria enviada pelo autor, por e.mail. Todavia preferi copiá-la diretamente do site do autor, por conhecer a situação na qual se encontra (recuperando de um acidente). Assim pude também transcrever os comentários feitos até hoje, sendo um deles respondido esclarecendo a forma pela qual agiu. - Clique aqui para conferir: www.joaoboscoleal.com.br


segunda-feira, 18 de abril de 2011

As transformações e os encontros de nossas vidas

18 de abril de 2011

Por João Bosco Leal

Sem nos darmos conta, a vida vai nos transformando, nos moldando, e, quando resolvemos pensar sobre ela, percebemos que hoje somos pessoas bem diferentes do que já fomos um dia.


As transformações vão ocorrendo em diversos pontos, físicos, psicológicos, educacionais, e até dos conceitos morais, de modo que, quando percebermos, já não somos, e nunca mais seremos os mesmos.


Coisas que já foram moralmente inconcebíveis hoje são tratadas como normais, politicamente corretas, e as pessoas que não acompanharam essas mudanças é que se tornaram as exceções, apontadas como radicais, retrógradas, ultrapassadas e, em alguns casos até condenadas.


Em minha geração fomos criados de modo a dar importância para muitas coisas que hoje penso serem insignificantes. Moças não virgens, e mulheres separadas, eram apontadas como não dignas de convivência em muitos lares.


Atualmente, para o homem em busca de uma companheira, seria praticamente impossível o inverso, encontrar, de acordo com sua idade, jovens ainda virgens ou mulheres que não tiveram uma experiência matrimonial anterior.


Quando se busca um novo relacionamento, hoje não imagino a possibilidade, excetuando-se claro as jovens com excessos e perversões que se vê atualmente, de alguém dar importância, ou permitir que isso se torne motivo de impedimento.


No contexto profissional, ético ou moral, que importância teria se uma pessoa passou por uma experiência que não foi a que esperava, e resolveu mudar, melhorar.


Quantos entram em uma faculdade imaginando se formar em determinada profissão, e no meio do curso percebem que aquela não é o que pretende para seu futuro. A opção é abandonar o curso e voltar ao início, prestando um novo vestibular para um novo curso escolhido.


Provavelmente, nessa segunda tentativa, terá mais chance de acertar do que na primeira, pois talvez só tivesse pensado no retorno financeiro de determinada profissão, e agora já percebe que isso não é o suficiente, não é o que realmente busca, e que o completará.


Comercialmente, sempre que mudamos de emprego, de ramo de atividade e buscamos novos mercados, estamos em busca de mais lucros e de atividades que nos proporcionem maior prazer, pois só o lucro não nos satisfaz.


Penso que isso também passa a ocorrer com nossos conceitos sobre tudo, refletindo em nossos comportamentos diários, e em vários setores de nossas vidas, quando passamos a dar importância a algumas coisas e deixamos de nos importar com outras.


Comercial e afetivamente, deixamos de buscar lucros, satisfações, e prazeres momentâneos. Passamos a buscar parceiros que participarão de nossos planos e projetos futuros, de maior duração, quando há maior confiança, cumplicidade, e objetivos comuns.


Com o tempo, e com as transformações por que passamos, vamos, inconscientemente, selecionando aqueles amigos, os comerciantes e os parceiros com que pretendemos continuar nos relacionando, partilhando a vida.


Com a seleção, própria de alguém já mais maduro, ainda que não sejamos capazes de reconhecê-las, sempre haverá pessoas que estão à espera de outra, exatamente aquela na qual estamos nos transformando.

Matéria enviada pelo autor, por e.mail – Clique aqui para conferir

sábado, 16 de abril de 2011

A MORTE ADORA


Por Edson Paulucci


A morte adora pobre.

Sem cobre, sem vintém.

Rico se estica, mas morre também.


Com bigode, sem bigode.

Fardão, fardinha. Maranhão.

Entra Ney, Sai Ney. A filha.


Compra votos. Compra pertences.

Não compra a paz. E chora.

Nos lençóis maranhenses.



quarta-feira, 13 de abril de 2011

Os tropeços constroem


Por João Bosco Leal

Na internet, encontrei uma frase atribuída a Voltaire que diz: “Não estou de acordo com o que dizes, mas lutarei até o fim para que tenha o direito de dizê-lo”.


Durante o período em que estava com minhas movimentações limitadas, resolvi escrever tudo o que penso, sobre diversos assuntos. Foi a idéia que tive para me ajudar na sobrevivência durante aquele longo período, e para deixar para meus descendentes idéias que talvez pudessem ser úteis um dia, ou, se não forem, que ao menos sirvam para mostrar o que pensava seu antepassado.


Assim, como já havia anteriormente montado um blog destinado a mostrar aos filhos e netos, com descrições diárias, uma viajem de moto que fiz ao Chile, e outras que pretendia realizar, montei um outro blog, agora para arquivar meus textos, de modo a que, no futuro, pudessem ser por eles consultados se tivessem interesse.


Tanto no blog da viagem de moto, como neste, a intenção não era dar grande divulgação ao mesmo, e muito menos utilizá-los como fonte de renda, mas amigos motociclistas mais próximos na época acharam ótima a idéia, passaram a acompanhar a viagem, fazer comentários, dar sugestões de locais, e inclusive alguns também montaram seus próprios blogs para divulgar suas próximas viagens.


Como profissionalmente já havia trabalhado com sites anteriormente, pessoas mais próximas, inclusive amigos da imprensa, me solicitaram, e comecei a enviar-lhes cópias desses textos que agora escrevia, e alguns passaram a ser publicados, talvez por simples consideração a um amigo que estava enfermo, imobilizado.


Alguns textos foram muito bem recebidos, e outros nem tanto, mas a realidade é que as publicações em blogs, sites e jornais foram aumentando, e alguns textos ultrapassaram inclusive os limites geográficos do país, e foram publicados em países vizinhos, e também “além mar”.


Claro que isso nos incentiva muito, mas também aumenta muito a responsabilidade de que dizemos, e, apesar de já mantermos uma média de dezenas de publicações de cada texto, outro dia me surpreendi com um redundante fracasso de publicação, pois um determinado texto só foi publicado por dois sites. Li, reli, e não consegui, até o momento entender o motivo, mas procurei, como sempre aprender algo com isso.


Primeiro que, retornando às origens do blog, minha intenção nem era publicar nada além do blog, que seria um simples arquivo dos textos, para visitação futura de meus descendentes. As publicações ocorridas foram consequências excelentes, de concordância, aceitação, mas nunca buscadas como objetivo do blog.


Declarações como a de Voltaire, só me dão a certeza de que escrever era mesmo o que tinha a fazer, durante meu período de impossibilidade de locomoção, e que, com o que ocorreu em seguida, que devo mesmo continuar, pois nunca seremos capazes de acertar sempre, mas não podemos perder as oportunidades, sejam as de dizer claramente o que pensamos, sejam as de aprender com os tropeços.


Com eles aprendemos que devemos olhar mais onde pisamos, pois no caminho podem existir mais pedras e buracos, dos quais podemos nos desviar se vistos com antecedência, e dos quais podemos tirar mais lições, como a de que podem nos derrubar, mas ao mesmo tempo servem de sombra para insetos e répteis.


Tropeços são parte inerente da vida, sem os quais, nossos e de outros, não temos como aprender, e usá-los como combustível para a viagem rumo ao sucesso. Mesmo ainda não tendo entendido claramente este último, já o estou usando na construção do caminho que pretendo continuar seguindo, e que certamente me levará ao acerto.


Matéria enviada pelo autor, por e.mail – Clique aqui para conferir