terça-feira, 29 de novembro de 2011

A nossa geração.

28 de novembro de 2011

Por João Bosco Leal

Apesar de ainda faltarem dois longos anos para lá chegar, eu me identifiquei bastante lendo um texto de Regina de Castro Pompeu “De repente 60″.


A amiga de juventude que o enviou dizia perceber que já possui bem mais passado do que futuro, já não possuía mais tempo a perder e que agora procurava dar mais carinho, amor, cumplicidade e amizade aos que mais quer, mas cobrava receber o mesmo, pois o tempo passava e amanhã poderia ser tarde. Já ouvira muitas coisas semelhantes, mas dito assim, ao lado do texto enviado, despertou-me atenção para os raciocínios.



Por termos presenciado tantas mudanças radicais pelas quais passou a humanidade no período, realmente somos de uma geração extremamente privilegiada. Nesse período fizeram história John F. Kennedy, Martin Luther King, Frank Sinatra, os Beatles, Elvis Presley, Michael Jackson, Juscelino Kubitschek, Vinicius de Morais, Tom Jobim e Elis Regina, citando somente os que já não estão entre nós.


Presenciamos o surgimento das eletrolas, vitrolas, dos gravadores com fitas de rolo, cartucho e cassete – que os adolescentes provavelmente já nem sabem do que se trata -, o início e a proximidade do fim dos CDs, DVDs e mp3, que deram lugar aos pen-drives e blu-rays.


As televisões com as imagens em preto e branco eram um luxo e durante muito tempo só eram encontradas nas residências das famílias com maior poder aquisitivo. Vieram as coloridas e muitas prefeituras dos municípios do interior colocavam um aparelho na principal praça da cidade, para que todos tivessem acesso.

As máquinas fotográficas eram enormes e mesmo quando se tornaram portáteis eram caras, não acessíveis para a grande maioria da população e gravavam as imagens em filmes de 35 mm que precisavam ser revelados.


Na década de cinquenta eram muito poucas as opções de transporte, realizado por jardineiras, trens ou bondes urbanos, pois os poucos modelos de automóveis existentes possuíam custo inimaginável para a população. Assistimos a tudo isso, mas também vimos o homem pisar na lua.


As comunicações evoluíram desde o telefone com manivela, passando pela chamada através da telefonista, aparelhos automáticos, os sem fio e celulares, chegando aos atuais smartphones.


Atualmente, as televisões e os telefones, fixos ou móveis, são de qualidade muito superior, de tamanhos de bolso a verdadeiras telas cinematográficas, acessíveis para toda a população e onde quer que ela esteja.


As opções são muitas, com canais abertos ou pay-per-view, analógicos ou digitais, celulares pré e pós-pagos, além de Skype, VOIP, etc., com todas as transmissões de imagem e som por cabos, antenas parabólicas, radio-frequência ou satélites.


Nas cidades estranhas, a cada trecho percorrido, parávamos para pedir informações, mas com os atuais aparelhos de GPS portáteis, não se erra mais qualquer endereço, pois uma voz eletrônica não silencia enquanto qualquer erro no trajeto não for corrigido.


A ciência e a medicina evoluíram de tal maneira nesse período que a expectativa média de vida dos brasileiros passou de quarenta para setenta e cinco anos.


Com os jovens, presenciamos o surgimento da geração i… Pod, Phone e Pad, dos diversos sistemas operacionais dos PCs, notebooks, smartphones e tablets, da “computação em nuvem”, além da morte de um gênio visionário, que criou ou possibilitou a criação da maioria dessas invenções, Steve Jobs.


Os que já possuem mais de sessenta anos podem se orgulhar de terem vivido no período mais fértil de progresso que a humanidade já conheceu.


MATÉRIA ENVIADA PELO AUTOR, PARA PUBLICAÇÃO, SOB SUA RESPONSABILIDADE – VEJA-A NO SEU SITE, CLICANDO AQUI.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A doce vida dos filhos-cangurus



A educadora Tania Zagury diz que filho tem que ter não só direitos, mas
também deveres



Por cláudio fragata lopes
E-mail: cfragata@edglobo.com.br



Nos anos mais efervescentes das décadas de 60 e 70, a palavra de ordem da juventude era pôr o pé na estrada. Isso significava romper com os valores estabelecidos da sociedade, entre eles a família, e ir em busca de seus sonhos, mesmo quando estes não eram muito claros. Visto hoje, parece compreensível. Além de um mundo que pedia reformas, havia um imenso abismo entre esses jovens e a geração de seus pais. Sair de casa acabou virando sinônimo de liberdade. Mesmo que para isso tivessem que trocar o conforto familiar por uma república de estudantes ou compartilhar um apartamento com vários amigos. Os mais psicodélicos integravam-se em comunidades hippies ou adaptavam-se ao espaço de uma barraca de acampamento. Pelo sonho de ser livre, tudo era válido, para usar uma expressão da época. De Bob Dylan aos Beatles, passando pelo anárquico grupo brasileiro Os Mutantes, dezenas de canções desse período exaltavam e estimulavam o êxodo juvenil. No final dos anos 70, essa prática já estava naturalmente incorporada à idéia de independência e realização pessoal.



O tempo passou e os filhos daquelas gerações rebeldes comportam-se hoje de forma diametralmente oposta. Ao contrário de seus pais, os jovens atuais não têm mais tanta pressa em sair de casa. A maioria, aliás, nem pensa no assunto. São os representantes da chamada geração-canguru, que resistem a abandonar a comodidade da casa paterna do mesmo modo que o filhote marsupial agarra-se à bolsa protetora da mãe. Alguns, mais folgados, não arredam da barra da saia nem mesmo depois que casam e têm filhos. Com isso, um novo fenômeno surgiu: o prolongamento da adolescência. Cada vez mais aumenta o número de jovens entre 20 e 30 anos acomodados à situação de eternos adolescentes. Muitos deles, contando sempre com a retaguarda dos pais, acabam não assumindo as responsabilidades inevitáveis da vida adulta. "Os pais de hoje sãos os jovens de ontem, que lutaram por ideais de liberdade política e igualdade social, derrubaram tabus sexuais, participaram do movimento estudantil, ou, ao menos, foram profundamente influenciados por tudo isso", lembra a educadora carioca Tania Zagury, professora adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de vários livros de orientação educacional, entre eles, Encurtando a Adolescência. "Os jovens de agora herdaram tudo isso de bandeja. Não há mais um confronto de gerações tão acirrado. Os pais procuram dar a eles a liberdade que não tiveram em seu tempo. Os filhos fazem o que bem entendem, não dão satisfação de horários, têm o seu próprio carro e muitos levam seus namorados para transarem em casa. Além disso, têm comida na hora, roupa lavada e passada. Que razão teriam para abrir mão de tudo isso?"



Pais perdidos


Muitos pais sentem-se perdidos diante dessa situação, sem saber o que fazer para não prolongar o processo mais do que o necessário ou evitar que ele se eternize. Conviver com legítimos filhos-canguru não é fácil. "Estamos falando de um jovem que não produz, não colabora com nada", esclarece Tania. "Nesse caso, os pais precisam estabelecer um prazo para que o filho tome um jeito na vida, incentivando-o a procurar um emprego ou alugar um apartamento." Filha-canguru assumida, a bióloga Gisele Carvalho, 27 anos, morou com os pais até o mês passado. Mudou-se apenas porque resolveu se casar. Ela garante que, por desfrutar de liberdade total, nunca pensou em morar sozinha antes. Mas admite que o conforto é uma questão muito importante para a sua geração. "Nesse ponto, somos individualistas", diz. "Não faz sentido dividirmos um apartamento com pessoas estranhas, se temos tudo na casa de nossos pais. Se não tivesse me casado, continuaria morando com eles. Desde cedo aprendi a usufruir as coisas boas da vida. Meus pais me deram tudo: carro, dinheiro, roupas, viagens." As palavras de Gisele exemplificam bem a distinção que Tania Zagury faz entre as duas épocas. Para ela, a geração dos anos 60 era a do idealismo, a de hoje é a do prazer. "A geração dos pais, mais preocupada com o coletivo e o social, dava um peso menor às coisas materiais. Os jovens atuais, não. Foram criados com toda a infra-estrutura, não se importam de ser meros usufruidores."



Na opinião da educadora, dois fatores básicos contribuem para que os filhos demorem mais tempo a sair de casa e também para o conseqüente prolongamento da adolescência: a falta de limites e a superproteção. A seu ver, os pais que cresceram lutando contra toda a forma de opressão acabaram confundindo autoritarismo e autoridade. Dizer não para o filho era entendido como repressão. Somado a isso, estavam também a supervalorização da psicologia e a má compreensão dos conceitos da psicanálise, que nas décadas de 60 e 70 passou a ser popularizada pelos meios de comunicação. Proibir as crianças seja do que for era considerado altamente traumatizante, podia ser a origem de complexos insuspeitados. "Tudo isso adquiriu um significado especial para nós, brasileiros, que acabávamos de sair de uma ditadura militar", lembra Tania. "Todos esses equívocos e mais a falta de um modelo educacional definido - a geração rebelde derrubou o modelo antigo, mas não sabia o que colocar no lugar dele - levaram a uma espécie de ensaio e erro em matéria de educação, sempre embasado na permissividade. Os pais passaram a acreditar que para os filhos serem felizes deviam fazer tudo o que tinham vontade. Com isso, enquanto perdiam a autoridade, os jovens foram conquistando espaços muito maiores em termos de exercitar e colocar em prática seus desejos do que as gerações passadas."



Mãe, eu quero

O consumismo é uma das expressões dessa vontade desenfreada dos filhos. A falta de imposição de limites reduz muitas vezes os pais à condição de provedores dos impulsos consumistas dos filhos, comprando tudo o que pedem. É muito comum que cada filho tenha o seu próprio quarto, às vezes com banheiro privativo, sua própria televisão, seu celular, seu som, seu computador. "Os jovens estão desaprendendo a conviver, a compartilhar, tudo é individualizado", observa Tania. "Aí está uma diferença básica entre essas gerações. Nos anos 60 e 70, as pessoas precisavam sair de casa para conseguir essas coisas."



Aliada à falta de limites, a superproteção dos pais é outro fator que transforma os jovens em eternos adolescentes. Cada vez mais assustados com a violência das cidades, eles são muitas vezes os primeiros a estimular a permanência dos filhos em casa. "Mais preocupante é quando começam a ceder em coisas com as quais não concordam por puro medo de que os filhos sofram alguma agressão", ressalva Tania. "Tal atitude só leva à acomodação e à falta de objetivos. Os filhos acabam incapazes até de tirar um prato da mesa." A educadora sustenta que a conjugação de falta de limites e superproteção pode ser uma das causas da crescente marginalização de jovens da classe média e alta. "Os crimes cometidos por esses garotos denotam que eles cresceram sem compreender a existência do semelhante. Cercados de bens materiais e fazendo tudo o que lhes dá na veneta, acabam adquirindo uma enorme dificuldade para tolerar frustração. Mas a obrigação de desenvolver essa capacidade cabe aos pais. Ninguém nasce com ela. E isso só se obtém impondo limites, ou seja, com autoridade." Mas não são apenas as mordomias familiares que atrasam a saída da adolescência. Tania faz questão de frisar que existem fatores sociais determinantes, tais como a recessão econômica e o desemprego. "Esse quadro leva a uma exigência cada vez maior em termos de profissionalização. Já não basta ao jovem terminar a faculdade para ocupar os cargos disponíveis. Ele faz mestrado, doutorado e até pós-doutorado. Tudo isso leva tempo, então vai ficando na casa dos pais. Sem trabalho, não dá para se tornar independente, mas o emprego pode demorar a chegar. Um pai e uma mãe não têm como mudar essa situação. É uma questão social."



Base segura


Mesmo para quem está em início de carreira, a casa paterna pode ser uma base segura até que se alcance a maioridade profissional. É o caso de Verônica Ferreira Dias, de 23 anos, formada em cinema há um ano e que, mesmo trabalhando, não pensa em morar sozinha: "Troco minha independência pessoal pela profissional", explica. "Na minha área, o trabalho free-lancer é o mais comum. Morando com meus pais, posso escolher melhor esses trabalhos, e, ao mesmo tempo, suportar os períodos de desemprego entre um e outro." Ela conta que já se deu ao luxo de aceitar propostas pouco lucrativas, mas que enriqueceram seu currículo. "Claro que isso seria impossível se tivesse que pagar aluguel", argumenta. "Por isso, até adquirir liberdade financeira, vou continuar morando com meus pais. Além do mais, não acho isso o fim do mundo. Eles são ótimos." Verônica diz que se depender de sua família, ela não sairá de casa nunca. "É curioso, justo agora que eu e meus irmãos estamos chegando na idade de nos tornarmos independentes, meus pais resolveram comprar o apartamento vizinho para ampliar aquele em que moramos."



Nem todo jovem entre 20 e 30 anos que more com os pais pode ser rotulado de filho-canguru. Se ele ainda não saiu de casa porque está estudando ou não conseguiu um emprego, não significa que seja um adolescente fora de hora. Para Tania, a maturidade de uma pessoa é o resultado da conjugação de três fatores. O primeiro é a sua capacidade de prover seu próprio sustento. Nesse caso, nada impede que o jovem trabalhe e continue morando com os pais, desde que contribua com parte das despesas da casa, ou pelo menos, arque com seus próprios gastos. Segundo, é o desejo de contribuir, seja em casa, seja em melhoria da sociedade. "Isso significa ser participativo e não ficar esperando tudo de mão beijada, carro, comida, mesada", esclarece a educadora. "Um filho pode colaborar ativamente com a vida familiar, indo ao supermercado ou levando o carro ao mecânico." Terceiro, é a pessoa estar apta a relacionamentos afetivos mais estáveis e duradouros. "Namoricos são próprios da adolescência", afirma Tânia. "Na idade adulta pode ser sinal de imaturidade."



Mais tempo jovem


Pela atual classificação da Organização Mundial da Saúde, o estudante de direito Rafael Augusto Pantaleão de Castro, de 19 anos, ainda é um adolescente - segundo esta nova definição, a adolescência está circunscrita ao período que vai dos 10 aos 20 anos. Seu perfil é idêntico ao da maioria dos jovens de sua idade e classe social: tem quarto com banheiro privativo, seu próprio carro, som e televisão. Entretanto, ele se considera bastante responsável, mesmo morando com os pais. Desde os 15 anos trabalha na corretora de seguros da família e acaba de assumir a direção de uma loja de automóveis adquirida pelo pai. Apesar de contar com seu próprio ganho, não faz planos de sair de casa. "Sou um forte candidato a filho-canguru", brinca. "Aqui tenho casa, comida, roupa lavada e, acima de tudo, o afeto de meus pais, que são meus melhores amigos. Temos uma relação baseada na confiança. Daqui, só saio para casar, o que imagino que vá acontecer somente ali pelos 30 anos."

Saber se virar


A experiência de morar sozinho pode não ser fundamental para se galgar a maturidade, mas a maioria dos especialistas concorda que ajuda bastante. "Não há dúvida de que esta é uma condição efetiva para ser independente", garante a psicóloga e psicanalista Isabel Khan, professora da faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Aliás, mesmo o exercício de morar com o outro, como acontecia nas repúblicas estudantis dos anos 60, pode levar o indivíduo a brigar pelo seu espaço. No âmbito familiar, os papéis estão bem definidos, por mais que se brigue por eles. Saber se virar sozinho desde cedo é positivo, contribui para o crescimento emocional e o autoconhecimento. Pode, ao menos, ser praticado em alguns momentos da vida, em situações de trabalho ou viagens."



Premonitório, o psicoterapeuta José Ângelo Gaiarsa afirmava, três décadas atrás, que o convívio entre pais e filhos - de 15 a 30 anos em média, naquela época - durava muito além do necessário. Ele defendia a idéia polêmica - e ainda defende - de que a família é uma estrutura maléfica, onde os jovens são adestrados desde cedo a reproduzir o velho mundo adulto. Considerava a família ideal aquela que começava a se destruir quando nascia o último filho e se desfazia de vez quando esse caçula chegasse aos 15 anos. Gaiarsa via então no papel materno o principal agente de transmissão do conservadorismo social, passandoadiante tudo o que aprenderam "de seus antepassados e de suas vizinhas". Sua opinião não mudou muito: "As mães são o verdadeiro partido conservador do mundo". Ele vê a geração-canguru como o resultado desse longo círculo de equívocos: "Os pais estão começandoa se encher disso", diz. "Fico pensando quantas doenças psicossomáticas eles vêm desenvolvendo por terem parasitas dentro de casa. Filho não foi feito para viver grudado nos pais. A gente vê isso na natureza. O passarinho joga o filhote pra fora do ninho quando chega a hora."



Altos vôos


Mas se a tendência das novas gerações é permanecer sob as asas da família, o acaso pode também dar uma mãozinha para que alguns jovens alcem vôos mais ousados e descubram as mazelas de viver sozinho. Foi o que aconteceu com os irmãos paulistanos Gabriela Galvão Jouclas, de 26 anos, estudante de psicologia, e Luís Camilo Galvão Jouclas, de 28 anos, administrador de empresas e designer gráfico. Filhos de pais divorciados, eles viveram até dois anos atrás na casa materna. A vida de filhos-canguru ia bem, até a mãe, que é professora universitária, aceitar um emprego na Universidade Federal do Paraná e mudar-se para Curitiba. De uma hora para outra, os dois, que permaneceram em São Paulo, se viram obrigados a assumir responsabilidades até então inéditas.



"No começo, me senti um pouco perdida, principalmente com questões de dinheiro", conta Gabriela. "Claro que viver com os pais tem mordomias, a gente se acostuma e depois é difícil abrir mão delas. Morar sozinhos não foi uma opção para nós, foi casual. Mas agora prefiro que tenha sido assim. Hoje sou obrigada a planejar meu dia-a-dia. Determino meus horários, as regras da casa e preparo minha comida só quando estou com fome."



Livres e sérios


Luís Camilo, por seu lado, diz que jamais passou pela sua cabeça sair de casa para morar sozinho. "Meus amigos reclamavam de falta de liberdade, mas eu sempre tive meu espaço, mesmo morando com meus pais. Eles sempre foram adeptos do diálogo, nunca houve segredo entre nós", afirma. Como exemplo dessa liberdade, Cacá, como é mais conhecido, conta que quando morava ainda com a mãe, já podia levar a namorada para dormir com ele. "Comecei a namorar uma garota de Santa Catarina", lembra. "No princípio, quando ela vinha a São Paulo, dormia no quarto de hóspedes, mas depois passou a dormir na minha cama. Minha mãe não gostou muito da idéia, mas acabou se acostumando. Aí, o caminho estava aberto para as outras namoradas que tive." Hoje os dois irmãos vivem sua liberdade "com responsabilidade", como dizem. Gabriela tentou morar com a mãe, em Curitiba, mas voltou atrás. "Tinha rompido um namoro de seis anos, estava me sentindo sozinha, sabia que junto de minha mãe teria conforto e companhia, mas não me adaptei à nova cidade. Hoje, na prática, vivo sozinha, pois meu irmão passa mais tempo na casa da namorada. Em compensação, vou indo bem na faculdade, estou com mais vontade de estudar. Viver sozinha foi bom para isso, parece que estimula a gente a melhorar."



Mesmo quando o acaso não dá sua contribuição, há um momento na vida em que uma pessoa adulta percebe naturalmente que é chegada a hora de ter o seu canto. Pelo menos, é o que pensa a professora Tania Zagury. "É natural que um jovem amadurecido queira construir sua vida num espaço próprio, comprando seus móveis, dando um toque pessoal ao seu ambiente", afirma. "A idade da razão um dia chega e o jovem percebe que é ridículo ficar na casa dos pais como uma eterna criança, ouvindo a mãe dizendo coisas como 'filhinho, não esqueça o agasalho' ou 'coma tudo, senão você vai ficar fraco' e outros conselhos dispensáveis para quem já tem discernimento daquilo que é melhor para si mesmo."



Momento certo


Sem nunca ter planejado sair de casa antes, a coordenadora de chamadas de TV Simone Martins, de 30 anos, foi uma das que pressentiram o momento exato de bater as asas. Descontando os seis meses que passou em Londres, sempre morou com seus pais, pois achava uma bobagem sair de casa para arcar com um aluguel. "Além do mais, tive uma vida familiar muito boa, o diálogo era uma constante, nunca fui cobrada por nada, sempre contei com todo o suporte emocional", revela. "Trabalho no canal de televisão HBO há seis anos e, quando vi que tinha condições financeiras, resolvi comprar um apartamento. Se não morasse com meus pais jamais teria juntado dinheiro para isso." Simone diz que foi uma filha muito participativa, contribuindo com diversas tarefas familiares. Quando informou os pais de sua decisão, a mãe ficou um pouco triste, mas contou com o apoio dos dois. "A vida toda tomamos decisões em conjunto, da reforma da casa às viagens de férias. Na compra do apartamento, meu pai ajudou-me com a papelada. Tem coisas que até hoje faço deliberadamente com o auxílio deles. Nossa relação continua sendo de troca. Síndrome de auto-suficiência é uma bobagem", afirma. "Claro que senti medo, mas quando se toma a decisão de viver sozinho, não dá mais para voltar atrás. Somos obrigados a agir por nós mesmos. Chega uma hora em que precisamos disso, acho que coincide com a maturidade."



Adulto jovem


O caso de Simone parece ser um daqueles que Tania Zagury considera bem-sucedidos do ponto de vista educacional, quando os pais conseguem adequar liberdade e autoridade, colocando limites sempre que necessário. "Um jovem criado dessa maneira percebe um dia que não é mais adolescente, mas um adulto jovem e vai querer ter seu canto", acredita a educadora. "Os pais precisam desenvolver esse brio, trazer de volta os valores perdidos ao longo das últimas décadas, incentivando o jovem a assumir sua vida. Não vai ser por isso que deixarão de ser amigos de seus filhos. Estarão cumprindo seu real papel que é o de formadores éticos das futuras gerações."



A bióloga e ex-canguru Gisele Carvalho, embora se sinta uma típica representante das novas gerações, admite que tem uma espécie de sentimento de perda quando ouve falar dos anos 60: "Tenho a sensação de não ter vivido algo muito importante. Hoje caminhamos no sentido oposto, na direção do individualismo. Acho que estamos ficando cada vez mais caretas e medrosos". Ela parece saber do que está falando: "Assim como muitos jovens da minha geração, participei de vários programas de intercâmbio, que é uma forma de ter uma experiência fora de casa ao mesmo tempo segura e confortável. Vi muitos adolescentes voltarem ao Brasil antes do término dos cursos por dificuldade de se adaptar a coisas mínimas, até por não se habituarem com a cama de suas casas provisórias". Não há dúvida de que, para quem dormiu no sleeping bag e sonhou com um mundo de paz e amor, fatos como esse parecem ser o mais completo absurdo.



1964
Come mothers and fathers, / Throughout the land / And don't criticize / What you can't understand. / Your sons and your daughters / Are beyond your command / Your old road is / Rapidly agin' / Please, get out of the new one / If you can't lend your hand / For the times they are a-changin'


···
"Venham, mães e pais de todos os lugares/ e não critiquem aquilo que não podem entender/Seus filhos e filhas / Estão fora de seu controle / Sua velha estrada está Envelhecendo rapidamente/ Por favor, retirem-se da nova / Se não podem dar uma força / Pois os tempos estão mudando"



The times they are a-changin' Bob Dylan 1989


"Eu moro com minha mãe, mas meu pai vem me visitar/ Já morei em tanta casa que nem me lembro mais / Eu moro com meus pais./ É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã / Porque se você parar pra pensar, na verdade não há. / Você me diz que seus pais não entendem Mas você não entende seus pais. Você culpa seus pais por tudo / E isso é absurdo / São crianças como você."



PAIS E FILHOS

Renato Russo

Legião Urbana 1968


"Mamãe, mamãe não chore Eu nunca mais vou voltar por aí Mamãe, mamãe não chore, A vida é assim mesmo, Eu quero mesmo é isso aqui. Mamãe, mamãe não chore Eu quero, eu posso, eu fiz, eu quis, Mamãe, seja feliz"



Mamãe, coragem

Caetano Veloso e Torquato Neto 1969


"Hoje eu vou fugir de casa Vou levar a mala cheia de ilusão Vou deixar alguma coisa velha
Esparramada toda pelo chão Pra onde eu vou, venha também"



Fuga Nº 2 dos Mutantes

Rita Lee/Arnaldo e Sérgio Batista Os Mutantes 1970


Father:
It's not time to make a change
Just sit down and take it easy
You're still young, that's your fault
There's so much you have to know
Find a girl, settle down,
If you want you can marry
Look at me, I am old, but I'm happy

Son:
From the moment I could talk,
I was ordered to listen,
Now there's a way and I know
That I have to go.
Away, I know, I have to go

···
"Pai:
É tão cedo pra partir,
Devagar, não se apresse.
Nessa idade você tem tanta coisa que aprender
Ache a moça dos seus sonhos
Monte um lar e um negócio
Como eu fiz e eu sou velho
Mas feliz"

"Filho:
Desde o dia que aprendi a falar
Só faço ouvir vocês
Mas agora descobri
Que há um caminho e devo ir
Adeus, eu vou partir"

Father and Son
Cat Stevens
versão: Cacá Diegues

1967
"Wednesday morning at five o'clock as the day begins
Silently closing her bedroom door
Leaving the note that she hoped would say more
She goes downstairs to the kitchen clutching her handkerchief
Quietly turning the backdoor key
Stepping outside she is free

She (we gave her most of our lives)
Is leaving (sacrificed most of our lives)
Home (we gave her everything money could buy)

She's leaving home after living alone
For so many years
She's leaving home bye, bye
···
Às cinco horas da manhã, assim que o dia começa, /Silenciosamente ela fecha a porta do seu quarto, deixando um bilhete que ela esperava que dissesse tudo / Desce as escadas até a cozinha apertando seu lenço / Cuidadosamente gira a chave da porta dos fundos / Põe o pé pra fora, está livre

Ela (Dedicamos a maior parte de nossa vida a ela)
Está saindo (Sacrificamos quase toda a nossa vida)
De casa (Demos a ela tudo que o dinheiro podia comprar)

Ela está saindo de casa depois de viver sozinha por tantos anos
Ela está saindo de casa,
Adeus, adeus

She's Leaving Home
Lennon & Mc Cartney
Beatles
Tradução livre: Rodrigo Ratier

1985
"Meus dois pais me tratam muito bem
(O que é que você tem que não fala com ninguém?)
Meus dois pais me dão muito carinho
(Então por que você se sente sempre tão sozinho?)
Meus dois pais me compreendem totalmente
(Como é que cê se sente, desabafa aqui com a gente)
Minha mãe até me deu essa guitarra
Ela acha bom que o filho caia na farra
E o meu carro foi meu pai quem me deu
Filho homem tem que ter um carro seu
Fazem questão que eu só ande produzido
Se orgulham de ver o filhinho tão bonito
Meus pais não querem que eu fique legal
Meus pais não querem que eu seja um cara normal
Assim não vai dar, como é que eu vou crescer
Sem ter com o que me revoltar?
Assim não vai dar pra eu amadurecer
Sem ter com o que me rebelar."

Rebelde Sem Causa
Roger Moreira
Ultraje a Rigor

1971
"Se oriente, rapaz, pela constelação
do Cruzeiro do Sul
Se oriente, rapaz,
Pela constatação de que a aranha
Vive do que tece.
Vê se não se esquece.
Pela simples razão de que tudo merece
Consideração.
Considere, rapaz,
A possibilidade de ir pro Japão
Num cargueiro do Lloyd
Lavando o porão
Pela curiosidade de ver
Onde o sol se esconde"

Oriente
Gilberto Gil

Anote
Para ler

Encurtando a Adolescência

Educar Sem Culpa

O Adolescente por Ele Mesmo

Sem Padecer no Paraíso

Todos de Tania Zagury, Editora Record, 021/585-2047

A Engrenagem e a Flor, de J. A. Gaiarsa, Ícone Editora, 011/826-7074


Como amadurecer um filho-canguru
10 conselhos de Tania Zagury, retirados do livro Encurtando a Adolescência, para que os filhos assumam a vida adulta

1. Fazendo com que tenham direitos e deveres
2. Mostrando que são capazes de assumir responsabilidades, como pagar uma conta no banco, fazer compras no supermercado ou levar o irmão mais novo ao dentista.
3. Estabelecendo regras democráticas de convivência.
4. Fixando limites sempre que necessário.
5. Deixando que assumam, à medida que crescem, cada vez mais tarefas que lhe são próprias, como escolher suas roupas, responsabilizar-se pela limpeza do quarto.
6. Tornando-os co-participantes das decisões e medidas do dia-a-dia da família.
7. Ouvindo sua opinião e consultando-o sobre problemas que estejam afetando a família.
8. Estimulando-o a colaborar toda vez que a família se envolver em causas sociais, como doações e contribuições com alimentos e roupas para orfanatos e campanhas assistenciais.
9. Estimulando-o a ser financeiramente independente, estabelecendo primeiro uma mesada que deverá ser gerida por ele.
10. Incentivando-o a executar atividades e trabalhos, mesmo que temporários, que lhe rendam algum dinheiro.

Fonte: Galileu.globo.com - Link de acesso ao site:

http://galileu.globo.com/edic/95/comportamento1.htm

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A verdade: eu menti. Por Mirían Macedo


Eu, de minha parte, vou dar uma contribuição à Comissão da Verdade, e contar tudo: eu era uma subversivazinha medíocre e, tão logo fui aliciada, já 'caí' (jargão entre militantes para quem foi preso), com as mãos cheias de material comprometedor.


Despreparada e 'festiva', eu não tivera nem o cuidado de esconder os exemplares d'A Classe Operária, o jornal da organização clandestina a que eu pertencia (a AP-ML, ala vermelha maoísta do PC do B, a mesma que fazia a Guerrilha do Araguaia, no Pará).


Os jornais estavam enfiados no meio dos meus livros numa estante, daquelas improvisadas, de tijolos e tábuas, que existiam em todas as repúblicas de estudantes, em Brasília naquele ano de 1973.


Já relatei o que eu fazia como militante*. Quase nada. A minha verdadeira ação revolucionária foi outra, esta sim, competente, profícua, sistemática: MENTI DESCARADAMENTE DURANTE QUASE 40 ANOS!* (O primeiro texto fala em 30 anos. Eu fui fazer as contas, são quase 40 anos, desde que comecei a mentir sobre os 'maus tratos'. Façam as contas, fui presa em 20 de junho de 73. Em 2013, terão se passado 40 anos.)


Repeti e escrevi a mentira de que eu tinha tomado choques elétricos (por pudor, limitei-me a dizer que foram poucos, é verdade), que me deram socos e empurrões, interrogaram-me com luzes fortes, que me ameaçaram de estupro quando voltava à noite dos interrogatórios no DOI-CODI para o PIC e que eu passava noites ouvindo "gritos assombrosos" de outros presos sendo torturados (aconteceu uma única vez, por um curto período de tempo: ouvi gritos e alguém me disse que era minha irmã sendo torturada. Os gritos cessaram - achei, depois, que fosse gravação - e minha irmã, que também tinha sido presa, não teve um único fio de cabelo tocado).


Eu também menti dizendo que meus algozes, diversas vezes, se divertiam jogando-me escada abaixo, e, quando eu achava que ia rolar pelos degraus, alguém me amparava (inventei um 'trauma de escadas", imagina). A verdade: certa vez, ao descer as escadas até a garagem no subsolo do Ministério do Exército, na Esplanada dos Ministérios, onde éramos interrogados, alguém me desequilibrou e outro me segurou, antes que eu caísse.


Quanto aos 'socos e empurrões' de que eu dizia ter sido alvo durante os dias de prisão, não houve violência que chegasse a machucar; nada mais que um gesto irritado de qualquer dos inquisidores; afinal, eu os levava à loucura, com meu enrolation. Eu sou rápida no raciocínio, sei manipular as palavras, domino a arte de florear o discurso. Um deles repetia sempre: "Você é muito inteligente. Já contou o pré-primário. Agora, senta e escreve o resto".


Quem, durante todos estes anos, tenha me ouvido relatar aqueles 10 dias em que estive presa, tinha o dever de carimbar a minha testa com a marca de "vítima da repressão". A impressão, pelo relato, é de que aquilo deve ter sido um calvário tão doloroso que valeria uma nota preta hoje, os beneficiados com as indenizações da Comissão da Anistia sabem do que eu estou falando. Havia, sim, ameaças, gritos, interrogatórios intermináveis e, principalmente, muito medo (meu, claro).


Torturada?! Eu?! Ma va! As palmadas que dei em meus filhos podem ser consideradas 'tortura inumana' se comparadas ao que (não) sofri nas mãos dos agentes do DOI-CODI.


Que teve gente que padeceu, é claro que teve. Mas alguém acha que todos nós que saíamos da cadeia contando que tínhamos sido 'barbaramente torturados' falávamos a verdade?


Não, não é verdade. A maioria destas 'barbaridades e torturas' era pura mentira! Por Deus, nós sabemos disto! Ninguém apresentava a marca de um beliscão no corpo. Éramos 'barbaramente torturados' e ninguém tinha uma única mancha roxa para mostrar! Sei, técnica de torturadores. Não, técnica de 'torturado', ou seja, mentira. Mário Lago, comunista até a morte, ensinava: "quando sair da cadeia, diga que foi torturado. Sempre."


Na verdade, a pior coisa que podia nos acontecer naqueles "anos de chumbo" era não ser preso(sic). Como assim todo mundo ia preso e nós não? Ser preso dava currículo, demonstrava que éramos da pesada, revolucionários perigosos, ameaça ao regime, comunistas de verdade! Sair dizendo que tínhamos apanhado, então! Mártires, heróis, cabras bons.


Vaidade e mau-caratismo puros, só isto. Nós saíamos com a aura de hérois e a ditadura com a marca da violência e arbítrio. Era mentira? Era, mas, para um revolucionário comunista, a verdade é um conceito burguês, Lênin já tinha nos ensinado o que fazer.


E o que era melhor: dizer que tínhamos sido torturados escondia as patifarias e 'amarelões' que nos acometiam quando ficávamos cara a cara com os "ômi". Com esta raia miúda que nós éramos, não precisava bater. Era só ameaçar, a gente abria o bico rapidinho.


Quando um dia, durante um interrogatório, perguntaram-me se eu queria conhecer a 'marieta', pensei que fosse uma torturadora braba. Mas era choque elétrico (parece que 'marieta' era uma corruptela de 'maritaca', nome que se dava à maquininha usada para dar choque elétrico). Eu não a quis conhecer. Abri o bico, de novo.


Relembrar estes fatos está sendo frutífero. Criei coragem e comecei a ler um livro que tenho desde 2009 (é mais um que eu ainda não tinha lido): "A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça", escrito pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra. Editora Ser, publicado em 2007. Serão quase 600 páginas de 'verdade sufocada"? Vou conferir.


Fonte: Blog de Mírian Macedo – Clique aqui para conferir (Acessado às 09h 13m, do dia 24/11/2011 – horário de Mato Grosso do Sul)