Por João Bosco Leal
Algo me chamou a atenção e, ainda sentado, olhando pela sacada de meu apartamento pude ver, em plena luz do dia, quando um homem espancava uma mulher na pista central de uma avenida bastante conhecida e movimentada da cidade, defronte a uma grande revendedora de bebidas localizada próxima de casa.
Distante meia quadra do local, e com uma visão privilegiada pois resido no 11º andar, via tudo de frente. Imediatamente liguei para o 190 da polícia relatando os fatos, e o atendente, após todas as formalidades de identificação, me informou o número do protocolo do atendimento e disse que enviariam uma viatura.
O agressor, depois de mais alguns safanões deu um soco tão forte na mulher que ela caiu, parecendo haver desmaiado. Um veículo que se aproximava pela mesma pista desviou, e seguiu adiante sem nada fazer, assim como nenhum dos funcionários da empresa de bebidas, que estavam carregando um caminhão com mesas e cadeiras, se moveu para prestar qualquer tipo de socorro àquela mulher caída no centro da avenida.
Veículos continuavam se desviando mas ninguém parou. A vítima se levantou e cambaleante foi em direção à calçada da distribuidora. O agressor que agora estava do outro lado cruzou a avenida em direção a ela, e ficaram defronte a distribuidora, onde agora não conseguia vê-los pois a copa de uma árvore me impedia.
Liguei novamente para o 190, pois as agressões continuavam e até aquele momento nenhuma viatura policial chegara. O novo atendente demorou bastante em localizar a denuncia anterior e eu pude descrever as vestimentas do casal, para sua melhor identificação, solicitando que ele informasse a viatura via rádio.
Pude ver quando a mulher começou a descer a avenida com dificuldades e, antes de atingir a esquina já havia caído duas vezes. Como existe uma delegacia localizada na mesma avenida, exatamente oito quadras dali, e a viatura não chegava, liguei pela terceira vez para o 190.
O policial, que já me atendera no segundo telefonema, alegou que ainda não haviam chegado pois só faziam 14 minutos que eu ligara, e naquele trecho haviam muitos semáforos que impediam a locomoção mais rápida da viatura policial.
Liguei então para a Delegacia da Mulher e fui informado por uma pessoa que fazia a guarda do local que, como era quinta feira santa, a delegacia estava fechada e eu deveria ligar para o 190. Liguei pela quarta vez, quando me atendeu uma policial e imaginei que, com uma mulher me atendendo, talvez tomassem providências.
Informei que o agressor adentrara em uma casa abandonada defronte a distribuidora, e a vítima caminhava pela rua onde moro, caindo bastante, mas já estava quatro quadras distante. Sugeri que dessem prioridade no atendimento a ela, pois certamente necessitaria de socorros médicos, e o agressor estava em local fixo.
Ainda observando tudo da sacada pude ver quando a viatura chegou ao local e parou exatamente defronte a casa abandonada. Um policial nela adentrou e saiu logo em seguida para pegar uma prancheta com papéis na viatura. Voltou então para o interior da casa e pouco depois saiu, entrou na viatura e partiram, sem levar o agressor e sem sequer entrar na rua por onde caminhava a vítima.
Comecei a fazer alguns questionamentos como: Que cidadãos são esses, que presenciam uma ocorrência dessas, desviam seu veículo, mas não se envolvem? E os funcionários da distribuidora que nada fizeram? A polícia atende tantos casos semelhantes que sequer leva o agressor para prestar depoimento na delegacia?
Se não temos educação suficiente sequer para impedir agressões físicas, até em vias públicas, sem que ninguém se importe ou se envolva, claramente não somos uma população civilizada, e não podemos pleitear que outros países nos tratem civilizadamente.
joão, uma população que age desta forma, diante de um fato horroroso, comete o crime da negligência e da omissão juntamente com os agentes publicos.
Chocante, João! Eu de verdade, não sei de quem tenho mais medo, se da polícia ou do ladrão… Mas posso lhe dar uma sugestão? Da próxima vez chame o resgate. Eles nunca negam atendimento, e enquanto atendem a vítima, chamam a polícia e aí ela vem rapidinho, porque senão estão fritos! Dia desses eu estava numa lojinha aqui perto tirando um xerox quando ouvi gritos na rua. Imediatamente sai pra fora e vi um homem sendo espancado por dois garotos armados com pedaços de pau. Já tinha juntado um bocado de gente e ninguém fazia nada. Gritei na hora com os agressores: parem, vcs vão matar o cara! Eles pararam de bater e gritaram de volta: esse vagabundo acabou de invadir nossa casa!, ao que retruquei, tá bom, mas por causa de um ladrão vcs vão cometer um crime de morte? Vão se sujar? Ele já está no chão, não vai conseguir fugir, mas vcs podem ficar limpos. Os garotos foram embora, depois de me agradecer. Fiquei com o agredido até a polícia chegar. Já tinham chamado a polícia e o resgate, a meu pedido, que eu estava sem bolsa, sem celular. O ladrão foi socorrido e depois autuado. Depois te conto em particular um desdobramento deste fato, que me fez aprender muito sobre os que se omitem. O certo é que depois desse desdobramento, tenho mais medo dos omissos…
João porque você não correu para socorrê-la? desculpe-me se faço esta pergunta, sei que você ligou para a polícia, sei que tentou da forma mais óbvia, mas porque não correu até ela e a judou de forma direta?Talvez se alguém tivesse gritado com ele na rua ou tentado impedir, outros teriam se juntado contra este abuso…
Ângela,
Como já deve ter notado, tenho como parâmetro não responder a nenhum comentário no blog, onde pretendo deixar que todos tenham a maior liberdade, sem o risco de serem rebatidas.
Entretanto, como a pergunta demonstra sua indignação com a situação, que também foi a minha, achei que merecia uma resposta.
Certamente você não leu alguns de meus textos anteriores, mas só comecei a escrever depois de um acidente, que me deixou entre cama e cadeira de rodas por 2 anos e meio, período em que passei por 13 cirurgias.
Sei que isso não justifica completamente sua pergunta, mas só comecei a andar sem ajuda de acessórios como andadores e muletas agora em Novembro, e mesmo assim lentamente, pois fiquei com dificuldade de locomoção em virtude de uma diferença de 4cm entre uma e outra perna, e não possuir mais movimentos nos pulsos, o que faz com que tenha que ter muito cuidado para não cair, e, consequentemente, andar mais lentamente ainda.
Além disso, com o disse no texto, aparentemente estava próximo, mas na realidade estava meia quadra abaixo e mais meia de lado da rua onde aconteciam os fatos, e ainda no 11º andar, motivos que me levaram a entender que, até que eu descesse e caminhasse até o local a mulher já teria sido muito mais agredida.
Sei que agora, friamente pensando, talvez nada disso justifique minha atitude, mas foi o que pensei, e o que pude fazer no momento, e, se não foi a atitude correta, talvez tenha sido a “possível” para mim.
Me perdoe se a decepcionei como ser humano, e sei que isso é horrível, pois foi o que senti em relação às pessoas, saudáveis, que por lá estavam ou passavam e nada fizeram, inclusive a polícia.
Um grande abraço, e parabéns por ser uma pessoa assim, que ainda se incomoda com um crime desses, pois me parece que já somos poucos.
João Bosco
João
Essa situação que vc passou é parecida com o filme Janela Indiscreta do Hitchcock. Deves ter sentido uma impotencia muito grande. Penso que vc fez o correto chamando a policia. É muito perigoso o envolvimento direto nesse tipo de conflito.
Abraço
Neni
Caro amigo João
Somente dando para a população BRASILEIRA educação, saúde, trabalho e segurança, melhoraremos. Francamente tenho dificuldade em eleger o que é mais importante!!!
Zeito