segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Posturas e consequências - Por João Bosco Leal*


Tive um grande amigo, já falecido, que sempre dizia: "Jamais faltará miséria ao miserável ou fartura ao farturento".

Era um português com muito pouca escolaridade, talvez com somente um ou dois anos do primário, mas com enorme discernimento, com o qual levava a vida de modo extremamente correto, justo. Ajudava muitas pessoas que o procuravam e, em seu julgamento, achava que devia, mas também sabia falar verdades sobre os que, como dizia: "não valiam o que comiam".

Assim também era minha avó paterna. Também portuguesa e mulher de pouquíssimo estudo, era extremamente inteligente e de pouquíssimas brincadeiras. Sempre falava sério, mas com carinho, ensinando o que podia ensinar, e era muito, pois me ensinou muito do pouco que sei.

Até sua morte falava coisas que até hoje me fazem pensar como, durante sua vida, foi capaz de fazer tantas observações que a permitiam resumir determinados comportamentos, que devíamos ter ou não, em simples frases, ditados.

Considero espetacular a vida dessas pessoas que conheci muito de perto e, entre elas, identifico uma clara analogia: Apesar de serem de origem humilde, e de terem chegado ao Brasil sem praticamente nada, trabalharam duro durante toda a vida e, com isso, construíram um patrimônio suficiente para manter diversas de suas gerações.

Nunca vi nenhum dos dois ostentar nada do que possuíam, mas nunca os vi com nenhum tipo de avareza, muito pelo contrário, ajudavam muito e a muitos. Entretanto, nunca percebi nenhum tipo de desperdício em nenhum dos dois. Nada era jogado fora, desperdiçado.

Outro ponto em comum era como nunca estavam reclamando de algo ruim, de uma doença, com eles ou com alguém da família, uma perda - ainda que enorme, como a de um cônjuge, filho, neto -, um prejuízo, nada, não havia reclamações. A vida continua e deve ser assim encarada.

Aqueles acontecimentos fugiam ao seu controle, eram as variáveis incontroláveis da vida, como o clima para o agricultor. Precisavam continuar, pois outros permaneciam vivos e, quanto à perda material, esta só poderia ser recuperada com mais trabalho.

Entretanto, vejo pessoas com dificuldades para as menores coisas da vida. Estão gripadas, reclamam, deitam, contam para todo mundo, fazem o maior drama, mas o que é realmente necessário - se cuidar -, elas não fazem.
Caiu? Nem olhe para os lados. Levante-se. Não espere que alguém venha lhe ajudar. Não se envergonhe ou fique encabulado. Todos podem tropeçar e cair. Humilhante é ser incapaz de se levantar sozinho, necessitar de ajuda por um simples tombo.

Pessoas com quedas muito maiores - como a da perda de filhos, por exemplo -, levantam-se e continuam a vida, pois sabem que ainda necessitarão ajudar os que ficaram.

Na cidade em que moro, conheço um homem saudável, com cerca de 35 anos, que vive nos semáforos pedindo esmolas. Ele possui um estreitamento enorme das arcadas dentárias, tanto superior como inferior, que inclusive lhe dificulta a fala. Após haver contribuído com ele por dezenas de vezes, um dia estacionei o carro e o chamei, oferecendo-me para levá-lo a um cirurgião dentista que trata exatamente destes casos, tendo dito a ele que o ajudaria para que fosse operado, mas ele recusou-se imediatamente. Logo imaginei o motivo: curado, ele teria de trabalhar como todos. Não poderia mais pedir esmolas.

Reclamar de uma situação e não agir para repará-la é o mesmo que mostrar uma ferida e não tratá-la.
* Jornalista, escritor e empresário

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

UMA HISTÓRIA DE NASRUDIN: DE COMO ELE CRIOU A VERDADE.


  


UM TRIBUTO AO JUIZ FEDERAL SÉRGIO MORO.







Luiz Carlos Nogueira






Para quem não sabe, segundo a Wikipédia, “Nasrudin (em turco: Nasreddin Hoca, em turco otomano: نصر الدين خواجه, em persa: خواجه نصرالدین, em árabe: نصرالدین جحا / ALA-LC: Naṣraddīn Juḥā, em urdu: ملا نصرالدین , emuzbeque: Nosiriddin Xo'ja, Nasreddīn Hodja, bósnio: Nasrudin Hodža) foi um seljúcida satírico sufi, acredita-se que viveu e morreu durante o século XIII em Akshehir, perto deKonya, capital do Sultanato de Rum Seljuk, na atual Turquia. Ele é considerado um filósofo e sábio populista, lembrado por suas histórias engraçadas e anedotas. Ele aparece em milhares de histórias, às vezes espirituoso, às vezes sábio, mas muitas vezes, também, um tolo ou o alvo de uma piada. Uma história Nasreddin geralmente tem um humor sutil e uma natureza pedagógica. A festa internacional de Nasreddin Hodja é celebrada entre 05-10 julho em sua cidade natal a cada ano.

As histórias de Nasreddin são conhecidas em todo o Oriente Médio e tocaram as culturas ao redor do mundo. Superficialmente, a maioria das histórias de Nasreddin podem ser ditas como piadas ou anedotas de humor. Eles são contadas e recontadas eternamente em casas de chá e caravançarás da Ásia e podem ser ouvidos nas casas e nos rádios. Mas é inerente a uma história de Nasreddin que pode ser entendida a vários níveis. Não é a piada, seguido por uma moral e, geralmente, o pequeno extra que traz a consciência do potencial místico um pouco mais sobre a forma de realização.

Pois bem, vamos conhecer uma das histórias de Nasrudin, na qual ele CRIOU A VERDADE.

Havia um monarca preocupado em fazer que com as pessoas parassem de mentir, pois ele considerava que a mentira prejudicava a convivência entre as pessoas, porque destruía a confiança entre elas, porque sempre ocultava alguma coisa que fizeram de errado.

Assim editou leis proibindo a mentira.

Nasrudin que visitava o reinado e tido como sábio, foi procurado pelo rei, porque este percebeu que a sua lei não produziu efeito algum sobre as pessoas e, portanto, queria saber como agir em face disso. 

Nasrudin então lhe disse que: as leis não poderiam tornar as pessoas melhores, porque estas só poderiam atingir o estágio de serem verdadeiras, se praticassem ações que as colocassem em sintonia com a verdade interior, que se assemelhasse apenas levemente à verdade aparente.

Assim, seguindo a orientação de Narrudin, o rei decidiu providenciar algo que pudesses fazer as pessoas observarem a verdade e tornarem-se autênticas.

Como no caminho para a entrada da cidade havia uma ponte, o rei mandou construir uma forca sobre ela, na metade da sua extensão, de sorte que quando os portões fossem abertos ao raiar do dia, por sua determinação ali estava o capitão da sua guarda, postado à frente do seu pelotão de soldados, para examinar todas as pessoas que entrassem pela referida ponte, para assim cumprir sua ordem proclamada: “Todos devem ser interrogados e aquele que falar a verdade terá acesso ao meu reinado, mas ai daquele que mentir, porque será enforcado”.

Como Nasrudin se fez presente para acompanhar o resultado desse estratagema, ao ouvir a proclamação do édito do rei — deu um passo à frente. 

Surpreso o capitão da guarda lhe interrogou: Ei! Aonde vai?

Estou caminhando para a forca! Respondeu-lhe calmamente Nasrudin.

Não acreditamos em você! Disse-lhe o capitão.

Pois bem, replicou Nasrudin: então se eu estiver mentindo, enforquem-me!

Mas, mas...se o enforcarmos por estar mentindo, faremos com que o que você disse seja verdade!

Pois é isso mesmo: agora vocês sabem o que é a verdade: a sua verdade!

Mas não fiquemos por aí. Vamos um pouco mais adiante. Como é a verdade do psicopata? Esses desalmados acreditam na própria mentira...portanto, eles não precisam ser enforcados.


Agora pensem na turma dos envolvidos nos mensalões, petrolões, eletrolões, benedezões e todos os demais “ões” do mesmo gênero criminoso.       ELES NÃO DEVEM SER ENFORCADOS, DEVEM IR PARA A CADEIA.