segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O Sistema Sindical Brasileiro e as Greves - Por João Bosco Leal (*)


22 de fevereiro de 2013 
João Bosco Leal
Política Sindical 02Por haver participado da política classista durante vários anos, apesar de uma única participação na diretoria de um Sindicato propriamente dito na década de oitenta, sinto-me à vontade para realizar algumas reflexões sobre o sistema sindical brasileiro.

Sem entender como os Sindicatos e as Federações podem representar seus associados cuidando de interesses distintos e muitas vezes opostos como fazem atualmente, depois dessa experiência todas as minhas participações foram em entidades que não fazem parte do sistema sindical, as chamadas organizações não governamentais.

Penso que essas entidades possuem maior legitimidade exatamente porque tratam exclusivamente de um interesse específico como as que buscam o respeito à propriedade privada, a reforma agrária, o meio ambiente, os povos indígenas e não de interesses diversos, muitas vezes confrontantes como alguns dos citados.

No sistema sindical vigente em nosso país, os mesmos sindicatos, federações e confederações que cuidam dos interesses dos produtores de milho cuidam também daqueles dos criadores de porcos e frangos que o consomem, o que penso ser inviável, pois os interesses certamente são opostos.

Por questões de insalubridade, capacitação, exigência de nível de escolaridade e outras, os interesses dos trabalhadores rurais na agricultura são totalmente diversos dos trabalhadores na pecuária e os sindicatos que os representam são os mesmos. O sindicato que cuida dos interesses de um grande produtor rural é o mesmo que cuida daquele ex sem terra que hoje, após assentado, é um pequeno agricultor e isso ocorre em todas as áreas.

Trabalhadores de empresas estatais ou privadas, Universidades Federais, Polícia Federal, médicos, professores, bancários e funcionários dos correios realizaram ou estão realizando greves e sem me aprofundar no mérito, fica claro que a busca de todos eles é prioritariamente por maiores salários, com os sindicatos sempre muito intransigentes nessas negociações. Entretanto, não vejo nenhum sindicato incentivar a realização de greves para que seus filiados recebam cursos para maior capacitação profissional.

O indivíduo capacitado, com mais cursos e especializações, sempre conseguirá maiores remunerações salariais e não necessitará fazer greve para tal, ou nem mesmo ser filiado a nenhum sindicato, só contribuindo a estes por obrigação legal.

Penso haver chegado o momento de uma verdadeira mudança no foco central da questão. Em sua grande maioria as lideranças sindicais que aí estão são verdadeiros profissionais da exploração de seus filiados, não abandonando seus cargos e frequentemente alterando seus estatutos para incontáveis reeleições, pensando exclusivamente nas benesses salariais e mordomias obtidas com esses cargos, sem, em nenhum momento pensar realmente nos interesses da classe que deveria defender.

A obrigatoriedade da filiação sindical é o principal motivo desses acontecimentos. No sistema democrático todos devem ser filiados a uma entidade que oficialmente os represente diante do poder público, mas precisariam ser livres para se associar a quem entenderem que realmente os represente, podendo inclusive mudar quando julgar que outra entidade o representaria melhor.

Os sindicatos deveriam pleitear sempre a maior capacitação, educação e cultura de seus filiados, que assim serão mais bem remunerados sem a necessidade de greves, mas isso não aumenta a arrecadação sindical.

Trabalhadores mais capacitados não reelegerão os líderes sindicais que aí estão e por isso as greves são por maiores salários e não por maior capacitação.

(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Pensamento crítico – por que devemos tê-lo?









Luiz Carlos Nogueira








Quem nunca deu ouvidos a boatos, ou à crenças popular (tidas como sabedoria popular, que segundo dizem: a voz do povo é a voz de Deus), acreditou nas palavras de uma suposta autoridade religiosa ou política, consultou pessoas que se dizem videntes ou coisa parecida, cartomantes, jogadores de búzios, etc, recorreu a horóscopos ou acreditou na própria intuição?

Pelo que costumamos ver, poucas são as pessoas que nunca recorreram a esses tipos de procedimentos, sem a menor preocupação com a veracidade lógica ou a utilização do seu senso crítico.

Ultimamente com a proliferação das pulhas virtuais pela Internet (na Internet uma pulha é uma história que é apresentada com se fosse verdadeira, contendo argumentação aparentemente coerente, com começo, meio e fim, que não obstante nos pareça esquisita mas que faz algum sentido, porém é algo totalmente inventado); correntes de oração que lança ameaça (doença, morte de um ente querido, prejuízos que podem levar à falência ou coisa parecida) a quem não a distribuir; boatos sobre determinada pessoa pública e assim por diante.

É muito comum dizermos que temos a capacidade de separarmos o joio do trigo, ou seja, que sabemos exercer o nosso pensamento crítico frente a questões como essas. Mas na verdade, muitas vezes o nosso crivo é como se fosse uma peneira cujos buracos das suas grades, deixam passam um camelo por entre elas. Não estamos inteiramente acordados (vigilantes) para exercermos uma crítica baseada na lógica, na possibilidade ou impossibilidade de tal coisa ser verdadeira, buscando fundamentos concretos, para que disso resultem nossas ações e crenças.

Quando se fala em pensamento crítico, podemos recorrer à definição de William Graham Summer, para melhor compreendermos o que vem a ser esse exercício mental:

“[...] é a análise e o teste de proposições de qualquer tipo que nos são oferecidas, de forma a descobrir se elas correspondem à realidade ou não. É um hábito e um poder mental. É uma condição primária para o bem da sociedade que homens e mulheres sejam treinados nele. É a nossa única garantia contra a ilusão, enganação, superstição e incompreensão de nós mesmos e de nossas circunstâncias mundanas. Nossa educação é boa na medida em que ela produz uma bem desenvolvida capacidade crítica... A educação na capacidade crítica é a única educação da qual pode-se verdadeiramente dizer que forma bons cidadãos."


 Aqui está uma questão e ao mesmo tempo uma missão fundamental das escolas —  desenvolver essa capacidade de análise crítica nos seus alunos, como propõe Legault:



“Todos nós nascemos com a capacidade de pensar criticamente, mas, como qualquer outra habilidade, ela deve ser estimulada e aperfeiçoada com a prática. O pensamento crítico exige uma infra-estrutura intelectual que, à semelhança da estrutura de aço de uma construção, deve ser montada aos poucos, para dar-lhe formato e sustentabilidade definitivos.” (“Think”, Michael R. Legault, editor do National Post, pág. 45)

Joyce Collin-Smith escreveu um livro com o título "Não chame ninguém de mestre". Num dos trechos do seu livro ela conta sobre o diálogo entre dois personagens, assim:

"-- Mon Père -- exclamei, como se estivesse tomando a decisão dramática de me colocar diante de um pelotão de fuzilamento ou de ir sem hesitar para a câmara de torturas --, estou pronta para continuar a jogar esse jogo perigoso da vida! Ensine-me, je vous en prie.

Com ar galante dos franceses, ele inclinou seu grande vulto em minha direção, tomou a minha mão e levou-a até seus lábios.

-- Chère amie, só há uma coisa que eu poderia lhe ensinar -- disse.---É uma lição difícil: não há professores para você. Basta que busque o mestre que vive em seu interior.

O habitante do Mais-profundo? -- disse, repetindo uma frase budista que ele usara certa vez. -- Mas preciso de mais conhecimentos. Dê-me seu conhecimento.

Ele riu, e com um gesto amplo apontou para todos aqueles livros à nossa volta.

Tudo está aqui - disse -, nos livros, nas bibliotecas. Você só precisa pegá-los e torná-los seus.

Então, pegando uma caneta, escreveu firmemente numa folha de papel em branco: "Não chame ninguém de Mestre". Ele se curvou e se foi."

Este diálogo colocado aqui, na verdade tem por fim mostrar que também é necessário habituarmo-nos (sem preguiça) à prática das boas leituras. É como aconselha Gutemberg B. de Macedo, fundador da Gutemberg Consultores, empresa especializada na gestão de capital intelectual – Outplacement, Inplacement, Career Counseling – e conferencista empresarial em nível nacional:

“[…] Não saberia viver um único dia de minha vida sem ler um bom livro e aprender algo novo. Tenho bons motivos para empreender tarefa tão prazerosa, saudável e rica: a leitura de bons livros amplia os meus conhecimentos, enriquece o meu vocabulário, aprimora a minha comunicação falada e escrita, fortalece os meus argumentos, rejuvenesce o meu cérebro, proporciona uma sensação de liberdade inigualável, me ensina a pensar criticamente e a verbalizar minhas opiniões sem medo de censuras ou críticas. E, não menos importante, ela me capacita a “dialogar” com os mortos e os mais renomados sábios que já existiram ao longo da história da humanidade.[…]” (O princípio da sabedoria)



Assim, pela experiência ou ainda pela influência de uma autoridade externa, ou ainda pelo raciocínio apriorístico, é que começamos a estabelecer nossos convencimentos e crenças.

A experiência pessoal é a primeira forma de aprendermos, o que começamos ainda bebês, pois é através dela que vamos descobrindo as realidades que nos cercam, a interação com os pais, irmãos e outras pessoas, aprendemos a andar, falar e nos locomover. E nessas coisas básicas da vida, passamos a acreditar.

Todavia, no tempo em que os bebês crescem são colocados frente às complexidades da vida e do ambiente em que vivem, sujeitando-se, portanto, às influências do meio que vão somando um aprendizado cada vez maior, mas que no entanto, não lhe permitem fazer um raciocínio apriorístico, tendo em vista que sua experiência ainda é limitada.

É por isso que o papel das escolas e dos meios de comunicação sérios, tornam-se importantes nesse sentido, para que possamos identificar os caminhos pelos quais podemos palmilhar autoconscientes detectando as coisas absurdas e nos livramos delas. Nessa empreitada, os pais não podem ficar de fora.


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Compromisso - Por João Bosco Leal (*)

15 de fevereiro de 2013 por João Bosco Leal     

A mulher e o cavalo - as paixões masculinas 

















Atualmente as pessoas dizem que querem um compromisso sério e que ninguém mais quer isso. Que todos só querem “ficar”, “curtir”, mas assumir compromissos, não.
Com todas as mudanças culturais, educacionais e liberalizações ocorridas nas últimas décadas, realmente fica difícil imaginar que um jovem – que muitas vezes já passou dos trinta anos e ainda mora na casa dos pais -, queira trocar essa vida de liberdade, casa, cama, comida e roupa lavada, por uma de responsabilidade, trabalho e compromissos diversos que a vida de um casal exige.
Mas isso não está ocorrendo somente entre os mais jovens, pois entre as pessoas que se mantiveram solteironas, ou que se tornaram viúvas, separadas ou divorciadas, a reclamação é a mesma. Ninguém mais quer assumir compromissos com ninguém.
Com as facilidades tecnológicas atuais, conhecem-se mais pessoas virtualmente do que pessoalmente e passou a ser comum com elas trocar centenas de informações antes de realmente encontra-las fisicamente.
Recentemente ouvi um jovem universitário dizer que não sabia qual moça havia mordido seu lábio que estava bem marcado, pois na “balada” da noite anterior beijara tantas, que nem percebera quando isso ocorrera. Durante esse tipo de festa os rapazes – e outros já com bem mais idade que também as frequentam -, beijam todas por quem passam, como se isso fosse extremamente natural.
Entre esses jovens o assunto mais comum dos dias posteriores a essas festas é contar quantas “pegou” – termo utilizado para dizer que beijou, abraçou e “apalpou” -, durante uma única noite. E o mais surpreendente é que as jovens também saem contando por quantos foram “pegas”.
Claro que isso se torna um círculo vicioso, pois quando o rapaz se cansa dessa vida e começa a pensar em determinada estabilidade emocional, família e filhos, não consegue assumir nenhum compromisso mais sério com quem ele já pegou e já viu ser pega por muitos, por mais que seja uma moça bonita, simpática, educada e com ela tenha curtido momentos de bastante prazer.
Esse compromisso implica em algo bem mais abrangente, com muita amizade, companheirismo, cumplicidade, sonhos e projetos comuns, e para assumi-lo ele quer alguém que, como ele, busque algo duradouro, com perspectiva de futuro.
Uma pessoa que realmente esteja disposta a dividir sua vida com outro, abrir-se para milhares de novas possibilidades desde que sempre compartilhadas com quem não terá segredos, detalhes desconhecidos, ambições, interesses ou sonhos que não poderão ser contados.
Em decorrência disso, em relacionamentos assim, a liberdade é total. Ninguém se preocupa com o fato do outro, se eventualmente necessário, atender seu celular ou abrir sua página social, pois quando há transparência não existem segredos e a confiança é maior que a dúvida.
Os que desejam partilhar totalmente sua vida com outro, sabem que em bem pouco tempo os desejos mútuos serão conhecidos numa simples troca de olhar, e muitas vezes rirão do tamanho dessa intimidade e conhecimento.
Compromisso é permitir que o outro entre plenamente em nossa vida. Sonhar junto sem se sentir ameaçado, marcar um horário sem se sentir controlado, dividir o espaço sem se sentir invadido. 
Assumir um compromisso não é perder a liberdade, mas exercitá-la, na escolha de estar com alguém.

(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.
  

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Repartição de uma herança de 35 camelos entre 3 árabes - conto de Malba Tahan






CAPÍTULO III

Onde é narrada a singular aventura dos 35 camelos que deviam ser repartidos por três árabes. Beremiz Samir efetua uma divisão que parecia impossível, contentando plenamente os três querelantes. O lucro inesperado que obtivemos com a transação.

Poucas horas havia que viajávamos sem interrupção, quando nos ocorreu uma aventura digna de registro, na qual meu companheiro Beremiz, com grande talento, pôs em prática as suas habilidades de exímio algebrista.

Encontramos perto de um antigo caravançará (1) meio abandonado, três homens que discutiam acaloradamente ao pé de um lote de camelos.

Por entre pragas e impropérios gritavam possessos, furiosos:

- Não pode ser!

- Isto é um roubo!

- Não aceito!

O inteligente Beremiz procurou informar-se do que se tratava.

- Somos irmãos – esclareceu o mais velho – e recebemos como herança esses 35 camelos. Segundo a vontade expressa de meu pai, devo receber a metade, o meu irmão Hamed Namir uma terça parte, e, ao Harim, o mais moço, deve tocar apenas a nona parte. Não sabemos, porém, como dividir dessa forma 35 camelos, e, a cada partilha proposta segue-se a recusa dos outros dois, pois a metade de 35 é 17 e meio. Como fazer a partilha se a terça e a nona parte de 35 também não são exatas?

- É muito simples – atalhou o Homem que Calculava. – Encarrego-me de fazer com justiça essa divisão, se permitirem que eu junte aos 35 camelos da herança este belo animal que em boa hora aqui nos trouxe!

Neste ponto, procurei intervir na questão:

- Não posso consentir em semelhante loucura! Como poderíamos concluir a viajem se ficássemos sem o camelo?

- Não te preocupes com o resultado, ó Bagdali! – replicou-me em voz baixa Beremiz – Sei muito bem o que estou fazendo. Cede-me o teu camelo e verás no fim a que conclusão quero chegar.

Tal foi o tom de segurança com que ele falou, que não tive dúvida em entregar-lhe o meu belo jamal (2), que imediatamente foi reunido aos 35 ali presentes, para serem repartidos pelos três herdeiros.

- Vou, meus amigos – disse ele, dirigindo-se aos três irmãos -, fazer a divisão justa e exata dos camelos que são agora, como vêem em número de 36.

E, voltando-se para o mais velho dos irmãos, assim falou:

- Deverias receber meu amigo, a metade de 35, isto é, 17 e meio. Receberás a metade de 36, portanto, 18. Nada tens a reclamar, pois é claro que saíste lucrando com esta divisão.

E, dirigindo-se ao segundo herdeiro, continuou:

- E tu, Hamed Namir, deverias receber um terço de 35, isto é 11 e pouco. Vais receber um terço de 36, isto é 12. Não poderás protestar, pois tu também saíste com visível lucro na transação.

E disse por fim ao mais moço:

E tu jovem Harim Namir, segundo a vontade de teu pai, deverias receber uma nona parte de 35, isto é 3 e tanto. Vais receber uma nona parte de 36, isto é, O teu lucro foi igualmente notável. Só tens a agradecer-me pelo resultado!

E concluiu com a maior segurança e serenidade:

- Pela vantajosa divisão feita entre os irmãos Namir – partilha em que todos três saíram lucrando – couberam 18 camelos ao primeiro, 12 ao segundo e 4 ao terceiro, o que dá um resultado (18+12+4) de 34 camelos. Dos 36 camelos, sobram, portanto, dois. Um pertence como sabem ao bagdáli, meu amigo e companheiro, outro toca por direito a mim, por ter resolvido a contento de todos o complicado problema da herança!(3)

- Sois inteligente, ó Estrangeiro! – exclamou o mais velho dos três irmãos. – Aceitamos a vossa partilha na certeza de que foi feita com justiça e equidade!

E o astucioso Beremiz – o Homem que Calculava – tomou logo posse de um dos mais belos “jamales” do grupo e disse-me, entregando-me pela rédea o animal que me pertencia:

- Poderás agora, meu amigo, continuar a viajem no teu camelo manso e seguro! Tenho outro, especialmente para mim!

E continuamos nossa jornada para Bagdá.


(1) Refúgio construído pelo governo ou por pessoas piedosas à beira do caminho, para servir de abrigo aos peregrinos. Espécie de
rancho de grandes dimensões em que se acolhiam as caravanas.
(2) Uma das muitas denominações que os árabes dão ao camelo.
(3) A análise desse curioso problema os leitores encontrarão no Apêndice


Fonte: Tahan, Malba, 1895-1974. O Homem de Calculava.-31ª /ED. Rio de Janeiro: Record, 1985.



sábado, 2 de fevereiro de 2013

As curvas da reta - por João Bosco Leal(*)


1 de fevereiro de 2013 
João Bosco Leal
CaminhosHá aproximadamente cinco décadas, as drogas, lícitas ou não, estão sendo utilizadas por jovens, pilares de sustentação da sociedade, seu futuro. Como resultado, atualmente no mundo, milhões de pessoas de uma a seis décadas de vida estão envolvidas com drogas.
Grande parte da sociedade, principalmente a classe mais abastada financeiramente, passou a fazer vista grossa ou achar normal a utilização das mesmas em festas fechadas de boates, clubes ou residências.
Diante dessa facilidade, admissão e permissividade, muitos que nunca as haviam experimentado acabam cedendo e as experimentam. Alguns ficam somente nessa experiência, mas a grande maioria acaba se viciando.
O mesmo ocorre com as bebidas alcoólicas que atualmente são utilizadas por pessoas cada vez mais jovens ou até antes da sua juventude. Pode até parecer algo sem muita importância, mas não é principalmente porque, elas ainda não possuem sequer seus órgãos digestivos e filtrantes naturais totalmente desenvolvidos.
Essas crianças ou jovens certamente terão uma vida menos saudável e, como continuarão bebendo, abrirão também as possibilidades para novas experiências, como as drogas ilegais, cuja utilização leva pessoas honestas e muitas vezes socialmente bem posicionadas, para o caminho da ilegalidade.
E esse tipo de comportamento leva a outros também não socialmente apropriados, como as mentiras, primeiro para esconder a utilização das mesmas e depois para enganar a si própria, quando tenta buscar explicações e desculpas, ou até menciona orientação médica para seu uso, como a de que uma taça de vinho ao dia faz bem.
Realmente sempre se ouve dizer que essa taça diária faz bem, mas quem a pronuncia normalmente não bebe somente uma taça. São pessoas que passam a sentir necessidade do uso diário de alguma bebida e, quando o organismo já sente essa falta, como também a do cigarro, ela pode até tentar mentir para si própria, mas no fundo sabe que já é uma viciada.
As drogas, lícitas ou ilícitas viciam, e mesmo quando esse vício é de um medicamento clinicamente indicado para determinada ocasião, não se consegue abandoná-lo sem uma ajuda médica, que, sabendo como age a droga, provavelmente também saberá qual o processo menos doloroso para o abandono de seu vício.
A vida é como uma escada, ou uma estrada com várias ramificações, desvios. Podemos subir, descer, permanecer na mesma altura, virar a direita, à esquerda, fazer o contorno ou seguir em frente. A escolha é pessoal, mas os resultados, as consequências, serão diferentes diante de cada escolha.
Entretanto, ela é tão bela que, quando percebemos que a escolha realizada não foi a melhor, normalmente ainda temos uma chance de voltar e recomeçar a escalada ou o caminho. Quem fez uma curva quando deveria seguir por uma reta, só precisa ter a humildade de reconhecer o erro e a vontade de querer acertar.
Através da verdade, aquele que errou o caminho, mas reconheceu esse erro e buscou ajuda, conseguirá novas oportunidades.
Sempre haverá parentes, amigos, namorados ou qualquer outra pessoa, muitas vezes até uma desconhecida, disposta a nos ajudar em uma nova tentativa de escolha.
Em todas as áreas, o passo mais importante é reconhecer os erros e retomar o caminho.

(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.


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