22 de fevereiro de 2013
João Bosco Leal
Por haver participado da política classista durante
vários anos, apesar de uma única participação na diretoria de um Sindicato
propriamente dito na década de oitenta, sinto-me à vontade para realizar algumas
reflexões sobre o sistema sindical brasileiro.
Sem entender como os Sindicatos e as Federações
podem representar seus associados cuidando de interesses distintos e muitas
vezes opostos como fazem atualmente, depois dessa experiência todas as minhas
participações foram em entidades que não fazem parte do sistema sindical, as
chamadas organizações não governamentais.
Penso que essas entidades possuem maior
legitimidade exatamente porque tratam exclusivamente de um interesse específico
como as que buscam o respeito à propriedade privada, a reforma agrária, o meio
ambiente, os povos indígenas e não de interesses diversos, muitas vezes
confrontantes como alguns dos citados.
No sistema sindical vigente em nosso país, os
mesmos sindicatos, federações e confederações que cuidam dos interesses dos
produtores de milho cuidam também daqueles dos criadores de porcos e frangos que
o consomem, o que penso ser inviável, pois os interesses certamente são
opostos.
Por questões de insalubridade, capacitação,
exigência de nível de escolaridade e outras, os interesses dos trabalhadores
rurais na agricultura são totalmente diversos dos trabalhadores na pecuária e os
sindicatos que os representam são os mesmos. O sindicato que cuida dos
interesses de um grande produtor rural é o mesmo que cuida daquele ex sem terra
que hoje, após assentado, é um pequeno agricultor e isso ocorre em todas as
áreas.
Trabalhadores de empresas estatais ou privadas,
Universidades Federais, Polícia Federal, médicos, professores, bancários e
funcionários dos correios realizaram ou estão realizando greves e sem me
aprofundar no mérito, fica claro que a busca de todos eles é prioritariamente
por maiores salários, com os sindicatos sempre muito intransigentes nessas
negociações. Entretanto, não vejo nenhum sindicato incentivar a realização de
greves para que seus filiados recebam cursos para maior capacitação
profissional.
O indivíduo capacitado, com mais cursos e
especializações, sempre conseguirá maiores remunerações salariais e não
necessitará fazer greve para tal, ou nem mesmo ser filiado a nenhum sindicato,
só contribuindo a estes por obrigação legal.
Penso haver chegado o momento de uma verdadeira
mudança no foco central da questão. Em sua grande maioria as lideranças
sindicais que aí estão são verdadeiros profissionais da exploração de seus
filiados, não abandonando seus cargos e frequentemente alterando seus estatutos
para incontáveis reeleições, pensando exclusivamente nas benesses salariais e
mordomias obtidas com esses cargos, sem, em nenhum momento pensar realmente nos
interesses da classe que deveria defender.
A obrigatoriedade da filiação sindical é o
principal motivo desses acontecimentos. No sistema democrático todos devem ser
filiados a uma entidade que oficialmente os represente diante do poder público,
mas precisariam ser livres para se associar a quem entenderem que realmente os
represente, podendo inclusive mudar quando julgar que outra entidade o
representaria melhor.
Os sindicatos deveriam pleitear sempre a maior
capacitação, educação e cultura de seus filiados, que assim serão mais bem
remunerados sem a necessidade de greves, mas isso não aumenta a arrecadação
sindical.
Trabalhadores mais capacitados não reelegerão
os líderes sindicais que aí estão e por isso as greves são por maiores salários
e não por maior capacitação.
(*) João Bosco Leal -
jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural
e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.
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