Pensamento crítico – por que devemos
tê-lo?
Luiz Carlos Nogueira
Quem nunca deu ouvidos a boatos,
ou à crenças popular (tidas como sabedoria popular, que segundo dizem: a voz do
povo é a voz de Deus), acreditou nas palavras de uma suposta autoridade
religiosa ou política, consultou pessoas que se dizem videntes ou coisa
parecida, cartomantes, jogadores de búzios, etc, recorreu a horóscopos ou
acreditou na própria intuição?
Pelo que costumamos ver, poucas
são as pessoas que nunca recorreram a esses tipos de procedimentos, sem a menor
preocupação com a veracidade lógica ou a utilização do seu senso crítico.
Ultimamente com a proliferação das
pulhas virtuais pela Internet (na Internet uma pulha é uma história que é
apresentada com se fosse verdadeira, contendo argumentação aparentemente
coerente, com começo, meio e fim, que não obstante nos pareça esquisita mas que
faz algum sentido, porém é algo totalmente inventado); correntes de oração que
lança ameaça (doença, morte de um ente querido, prejuízos que podem levar à
falência ou coisa parecida) a quem não a distribuir; boatos sobre determinada
pessoa pública e assim por diante.
É muito comum dizermos que temos
a capacidade de separarmos o joio do trigo, ou seja, que sabemos exercer o
nosso pensamento crítico frente a questões como essas. Mas na verdade, muitas
vezes o nosso crivo é como se fosse uma peneira cujos buracos das suas grades,
deixam passam um camelo por entre elas. Não estamos inteiramente acordados
(vigilantes) para exercermos uma crítica baseada na lógica, na possibilidade ou
impossibilidade de tal coisa ser verdadeira, buscando fundamentos concretos,
para que disso resultem nossas ações e crenças.
Quando se fala em pensamento
crítico, podemos recorrer à definição de William
Graham Summer, para melhor compreendermos o que vem a ser esse exercício
mental:
“[...] é a análise e o teste de
proposições de qualquer tipo que nos são oferecidas, de forma a descobrir se
elas correspondem à realidade ou não. É um hábito e um poder mental. É uma
condição primária para o bem da sociedade que homens e mulheres sejam treinados
nele. É a nossa única garantia contra a ilusão, enganação, superstição e
incompreensão de nós mesmos e de nossas circunstâncias mundanas. Nossa educação
é boa na medida em que ela produz uma bem desenvolvida capacidade crítica... A
educação na capacidade crítica é a única educação da qual pode-se
verdadeiramente dizer que forma bons cidadãos."
Aqui está uma questão e ao mesmo tempo uma missão
fundamental das escolas — desenvolver
essa capacidade de análise crítica nos seus alunos, como propõe Legault:
“Todos nós nascemos com a
capacidade de pensar criticamente, mas, como qualquer outra habilidade, ela
deve ser estimulada e aperfeiçoada com a prática. O pensamento crítico exige
uma infra-estrutura intelectual que, à semelhança da estrutura de aço de uma
construção, deve ser montada aos poucos, para dar-lhe formato e
sustentabilidade definitivos.” (“Think”, Michael R. Legault,
editor do National Post, pág. 45)
Joyce
Collin-Smith escreveu um livro com o título "Não chame ninguém de
mestre". Num dos trechos do seu livro ela conta sobre o diálogo entre dois
personagens, assim:
"-- Mon Père -- exclamei, como se estivesse tomando a decisão dramática de me colocar diante de um pelotão de fuzilamento ou de ir sem hesitar para a câmara de torturas --, estou pronta para continuar a jogar esse jogo perigoso da vida! Ensine-me, je vous en prie.
Com ar galante dos franceses, ele inclinou seu grande vulto em minha direção, tomou a minha mão e levou-a até seus lábios.
-- Chère amie, só há uma coisa que eu poderia lhe ensinar -- disse.---É uma lição difícil: não há professores para você. Basta que busque o mestre que vive em seu interior.
O habitante do Mais-profundo? -- disse, repetindo uma frase budista que ele usara certa vez. -- Mas preciso de mais conhecimentos. Dê-me seu conhecimento.
Ele riu, e com um gesto amplo apontou para todos aqueles livros à nossa volta.
Tudo está aqui - disse -, nos livros, nas bibliotecas. Você só precisa pegá-los e torná-los seus.
Então, pegando uma caneta, escreveu firmemente numa folha de papel em branco: "Não chame ninguém de Mestre". Ele se curvou e se foi."
Este
diálogo colocado aqui, na verdade tem por fim mostrar que também é necessário
habituarmo-nos (sem preguiça) à prática das boas leituras. É como aconselha Gutemberg B. de Macedo, fundador da Gutemberg
Consultores, empresa especializada na gestão de capital intelectual –
Outplacement, Inplacement, Career Counseling – e conferencista empresarial em
nível nacional:
“[…] Não saberia
viver um único dia de minha vida sem ler um bom livro e aprender algo novo.
Tenho bons motivos para empreender tarefa tão prazerosa, saudável e rica: a
leitura de bons livros amplia os meus conhecimentos, enriquece o meu
vocabulário, aprimora a minha comunicação falada e escrita, fortalece os meus
argumentos, rejuvenesce o meu cérebro, proporciona uma sensação de liberdade inigualável,
me ensina a pensar criticamente e a
verbalizar minhas opiniões sem medo de censuras ou críticas. E, não menos
importante, ela me capacita a “dialogar” com os mortos e os mais renomados
sábios que já existiram ao longo da história da humanidade.[…]” (O princípio da sabedoria)
Assim, pela experiência ou
ainda pela influência de uma autoridade externa, ou ainda pelo raciocínio
apriorístico, é que começamos a estabelecer nossos convencimentos e crenças.
A experiência pessoal é a
primeira forma de aprendermos, o que começamos ainda bebês, pois é através dela
que vamos descobrindo as realidades que nos cercam, a interação com os pais,
irmãos e outras pessoas, aprendemos a andar, falar e nos locomover. E nessas
coisas básicas da vida, passamos a acreditar.
Todavia, no tempo em que os bebês
crescem são colocados frente às complexidades da vida e do ambiente em que
vivem, sujeitando-se, portanto, às influências do meio que vão somando um
aprendizado cada vez maior, mas que no entanto, não lhe permitem fazer um
raciocínio apriorístico, tendo em vista que sua experiência ainda é limitada.
É por isso que o papel das
escolas e dos meios de comunicação sérios, tornam-se importantes nesse sentido,
para que possamos identificar os caminhos pelos quais podemos palmilhar
autoconscientes detectando as coisas absurdas e nos livramos delas.
Nessa empreitada, os pais não podem ficar de fora.
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