terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Pensamento crítico – por que devemos tê-lo?









Luiz Carlos Nogueira








Quem nunca deu ouvidos a boatos, ou à crenças popular (tidas como sabedoria popular, que segundo dizem: a voz do povo é a voz de Deus), acreditou nas palavras de uma suposta autoridade religiosa ou política, consultou pessoas que se dizem videntes ou coisa parecida, cartomantes, jogadores de búzios, etc, recorreu a horóscopos ou acreditou na própria intuição?

Pelo que costumamos ver, poucas são as pessoas que nunca recorreram a esses tipos de procedimentos, sem a menor preocupação com a veracidade lógica ou a utilização do seu senso crítico.

Ultimamente com a proliferação das pulhas virtuais pela Internet (na Internet uma pulha é uma história que é apresentada com se fosse verdadeira, contendo argumentação aparentemente coerente, com começo, meio e fim, que não obstante nos pareça esquisita mas que faz algum sentido, porém é algo totalmente inventado); correntes de oração que lança ameaça (doença, morte de um ente querido, prejuízos que podem levar à falência ou coisa parecida) a quem não a distribuir; boatos sobre determinada pessoa pública e assim por diante.

É muito comum dizermos que temos a capacidade de separarmos o joio do trigo, ou seja, que sabemos exercer o nosso pensamento crítico frente a questões como essas. Mas na verdade, muitas vezes o nosso crivo é como se fosse uma peneira cujos buracos das suas grades, deixam passam um camelo por entre elas. Não estamos inteiramente acordados (vigilantes) para exercermos uma crítica baseada na lógica, na possibilidade ou impossibilidade de tal coisa ser verdadeira, buscando fundamentos concretos, para que disso resultem nossas ações e crenças.

Quando se fala em pensamento crítico, podemos recorrer à definição de William Graham Summer, para melhor compreendermos o que vem a ser esse exercício mental:

“[...] é a análise e o teste de proposições de qualquer tipo que nos são oferecidas, de forma a descobrir se elas correspondem à realidade ou não. É um hábito e um poder mental. É uma condição primária para o bem da sociedade que homens e mulheres sejam treinados nele. É a nossa única garantia contra a ilusão, enganação, superstição e incompreensão de nós mesmos e de nossas circunstâncias mundanas. Nossa educação é boa na medida em que ela produz uma bem desenvolvida capacidade crítica... A educação na capacidade crítica é a única educação da qual pode-se verdadeiramente dizer que forma bons cidadãos."


 Aqui está uma questão e ao mesmo tempo uma missão fundamental das escolas —  desenvolver essa capacidade de análise crítica nos seus alunos, como propõe Legault:



“Todos nós nascemos com a capacidade de pensar criticamente, mas, como qualquer outra habilidade, ela deve ser estimulada e aperfeiçoada com a prática. O pensamento crítico exige uma infra-estrutura intelectual que, à semelhança da estrutura de aço de uma construção, deve ser montada aos poucos, para dar-lhe formato e sustentabilidade definitivos.” (“Think”, Michael R. Legault, editor do National Post, pág. 45)

Joyce Collin-Smith escreveu um livro com o título "Não chame ninguém de mestre". Num dos trechos do seu livro ela conta sobre o diálogo entre dois personagens, assim:

"-- Mon Père -- exclamei, como se estivesse tomando a decisão dramática de me colocar diante de um pelotão de fuzilamento ou de ir sem hesitar para a câmara de torturas --, estou pronta para continuar a jogar esse jogo perigoso da vida! Ensine-me, je vous en prie.

Com ar galante dos franceses, ele inclinou seu grande vulto em minha direção, tomou a minha mão e levou-a até seus lábios.

-- Chère amie, só há uma coisa que eu poderia lhe ensinar -- disse.---É uma lição difícil: não há professores para você. Basta que busque o mestre que vive em seu interior.

O habitante do Mais-profundo? -- disse, repetindo uma frase budista que ele usara certa vez. -- Mas preciso de mais conhecimentos. Dê-me seu conhecimento.

Ele riu, e com um gesto amplo apontou para todos aqueles livros à nossa volta.

Tudo está aqui - disse -, nos livros, nas bibliotecas. Você só precisa pegá-los e torná-los seus.

Então, pegando uma caneta, escreveu firmemente numa folha de papel em branco: "Não chame ninguém de Mestre". Ele se curvou e se foi."

Este diálogo colocado aqui, na verdade tem por fim mostrar que também é necessário habituarmo-nos (sem preguiça) à prática das boas leituras. É como aconselha Gutemberg B. de Macedo, fundador da Gutemberg Consultores, empresa especializada na gestão de capital intelectual – Outplacement, Inplacement, Career Counseling – e conferencista empresarial em nível nacional:

“[…] Não saberia viver um único dia de minha vida sem ler um bom livro e aprender algo novo. Tenho bons motivos para empreender tarefa tão prazerosa, saudável e rica: a leitura de bons livros amplia os meus conhecimentos, enriquece o meu vocabulário, aprimora a minha comunicação falada e escrita, fortalece os meus argumentos, rejuvenesce o meu cérebro, proporciona uma sensação de liberdade inigualável, me ensina a pensar criticamente e a verbalizar minhas opiniões sem medo de censuras ou críticas. E, não menos importante, ela me capacita a “dialogar” com os mortos e os mais renomados sábios que já existiram ao longo da história da humanidade.[…]” (O princípio da sabedoria)



Assim, pela experiência ou ainda pela influência de uma autoridade externa, ou ainda pelo raciocínio apriorístico, é que começamos a estabelecer nossos convencimentos e crenças.

A experiência pessoal é a primeira forma de aprendermos, o que começamos ainda bebês, pois é através dela que vamos descobrindo as realidades que nos cercam, a interação com os pais, irmãos e outras pessoas, aprendemos a andar, falar e nos locomover. E nessas coisas básicas da vida, passamos a acreditar.

Todavia, no tempo em que os bebês crescem são colocados frente às complexidades da vida e do ambiente em que vivem, sujeitando-se, portanto, às influências do meio que vão somando um aprendizado cada vez maior, mas que no entanto, não lhe permitem fazer um raciocínio apriorístico, tendo em vista que sua experiência ainda é limitada.

É por isso que o papel das escolas e dos meios de comunicação sérios, tornam-se importantes nesse sentido, para que possamos identificar os caminhos pelos quais podemos palmilhar autoconscientes detectando as coisas absurdas e nos livramos delas. Nessa empreitada, os pais não podem ficar de fora.


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