Por Luiz Carlos Nogueira
Devia ser mais ou menos por volta de 1951/52, chegou em nossa casa um jovem cheio de aspirações, muitos planos, depois de haver estado na Escola de Cadetes do Exército Brasileiro.
O moço se tornou nosso hóspede muito querido. Não sei exatamente quantos anos de idade ele tinha naquela época; devia ter entre 19 e 20 anos, acho que não era mais do que isso, mas “o cara” mostrava ser inteligente e bastante espirituoso.
Eu era um menino, devia ter uns 6 anos de idade e ficava encantado com os desenhos que o nosso jovem amigo fazia a meu pedido, pois eu era fascinado por desenhos.
São coisas desse tipo que às vezes nós nem imaginamos, mas que acabam influenciando o despertar de uma vocação, de uma tendência, enfim refletem de forma positiva ou negativa em nossas vidas. Eu acredito que tudo o que fazemos, falamos, escrevemos, produz efeitos que não somos capazes de avaliar extensão que provoca no espírito humano.
Pois é — a facilidade com que esse jovem rabiscava os desenhos que lhe pedia para fazer, me deixavam entusiasmado — eu queria fazer igual e por isso eu ficava rodeando o jovem desenhista, que tinha, como se costuma dizer: uma paciência de Jó.
Passando algum tempo, o jovem saiu de Aquidauana (hoje Estado de Mato Grosso do Sul) e foi para a cidade de Dourados, no mesmo Estado. Fiquei sem o mestre.
Dali para frente eu fazia as minhas garatujas, sempre tentando aperfeiçoa-las, copiando desenhos do Walt Disney, porque naquela época era só o que se achava disponível numa cidade daquele porte. Depois com o tempo fui copiando outros desenhos de gibis, até que encontrei e fiz amizade (nessa época estava com 16 anos de idade) com um gênio (que desde aquela época eu já afirmava que é) do que hoje se denominam como artes plásticas. Estou me referindo ao meu amigo Josimar Fernandes de Oliveira — o Jô Oliveira, que felizmente hoje dispensa apresentações, porque inicialmente ele foi mais reconhecido no exterior do que no Brasil. Com ele aprendi alguma coisa que me serviu por algum tempo, para ganhar algum dinheiro naquela pequena cidade, onde o emprego era escasso. Mais uma vez eu fiquei sem o mestre (era um “mestre mirim”), porque terminamos o ginásio (ensino fundamental) e ele foi seguir seu destino.
Embora eu tivesse até chegado a expor algumas pinturas em telas, por falta de campo de aplicação e para prosseguir me aprimorando no desenho artístico e na arte da pintura (coisa que o Jô acreditou e não desistiu), acabei me dedicando ao desenho arquitetônico, porque com isso eu podia ganhar um pouco mais de dinheiro naquela época e naquela cidade. Isso foi muito bom para mim quando fui para o Exército, porque lá fui designado para uma seção, onde eu tinha por função desenhar mapas topográficos, quadros para instruções mostrando soldados em diversas situações e outras atividades inerentes.
Depois que saí do Exército, acabei fazendo outras coisas (fui bancário, contador de empresas, advogado), deixando por completo de fazer qualquer rabisco, perdendo quase por completo a habilidade que havia adquirido.
Estou contando essa pequena história apenas para ilustrar o fato do quanto podemos contribuir para o desenvolvimento dos seres que nos cercam. A prosperidade de um país e a elevação dos povos, depende muito daqueles que lhes servem de lume; daqueles que fortalecem os princípios, daqueles que cultivam a honra, daqueles que desenvolvem o humanismo e acreditam na verdade e na justiça.
Pois bem, eu estou falando aqui do Professor José Edmar Predebon que o Dr. Edson Nogueira Paim chama carinhosamente de Predeba. Pensando bem ele teria que ser o Predebinha, porque o pai dele era o Predebão. Esse “cara” que depois de inúmeras peripécias da sua vida se tornou publicitário, que gosta de fazer poesias e já escreveu alguns livros, fez despertar em mim o gosto pelo desenho. Tenho ainda guardado um livro que alguns anos depois ele me enviou. Trata-se de um exemplar de o “Figure Drawing For All It’s Worth” do mestre Adrew Loomis, que foi muito utilizado pelos que estavam aprendendo a desenhar na sua época, porque trazia um bom conhecimento de anatomia, movimento, perspectiva e luz.
O Professor Zezinho, o Predeba foi um estudante esmerado. Sabia beber conhecimentos das fontes cristalinas. Dentro desse livro que ele me enviou, vieram dois desenhos de quando ele era ainda muito jovem e que estava começando a fazer seus primeiros rabiscos. Eu os guardei e ele nunca soube disso. Agora eu os exibo nesta página e o leitor verá que desde muito cedo o Professor Predeba já demonstrava sua tendência para a propaganda e a publicidade.
Ao Predeba, minhas homenagens.
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