quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

DEUS FALOU - Pelo Dr. H.Spencer Lewis, F.R.C

Impresso pela primeira vez em 1916,

este artigo do Dr. Lewis tem aparecido

muitas vezes no “Rosicrucian Digest”,

Está sendo impresso em atenção a

repetidos pedidos.

In O Rosacruz, abril, 1997, publicação

bimenstral da Ordem Rosacruz-AMORC.



Em nossa louca ambição de conquistar o que é formidável e atingir o pináculo das alturas materiais, perdemos de vista as coisas essenciais, insignificantes, e agradáveis; e é frequentemente no crepúsculo da vida que compreendemos que muito nos afastamos do estreito caminho que, na realidade, conduz ao objetivo único de contentamento e paz.


Mais especialmente, afastamo-nos dos elementos naturais da religião. Ligamo-nos a esses movimentos modernos, recentemente fundados e até o momento livres, de religião “interpretada”, em que o Deus verdadeiro e real é pouco compreendido, considerado, ou não o é, de modo algum. Esquecemo-nos das leis e palavras simples de Deus, e a maneira de O adorarmos se torna tão confusa, tão complexa, tão profunda, que Deus finalmente se torna um estranho em nosso coração e consciência.


Não obstante, Deus está tão próximo, tão perto de nós, e é tão íntima e facilmente compreendido, que podemos ouvir a voz divina, sentir da Divina Presença, e compreender a Mente Divina, a cada hora do dia.


Faço aqui um apelo para que volvamos à adoração simples de Deus. Insisto em que nos unamos no propósito de compreender Deus como realidade viva, de ouvir a Sua voz, e de observar as suas obras.


“Deus falou !”


O leitor tem interpretado essa exclamação como resposta doutrinária do cuidadoso estudante da Bíblia. Talvez tenha mesmo pensado representar ele a crença cega do fanático religioso ou ainda a resposta metafórica do idealista religioso.


Todavia, meus amados amigos, eu ouvi Deus falar, e isto digo e afirmo na frieza da reflexão ponderada, sem veemência ou ardor exagerado. Para mim, isto é maravilhosamente verdadeiro, admirável, inspirador; não o é, todavia, fenomenal, sobrenatural ou místico, em qualquer sentido.


Tenho cruzado preguiçosamente um campo de margaridas de um vale tranqüilo, com a imensidão azul do céu acima de mim, o sol brilhando alegremente, os pássaros despreocupadamente saltando de ramo para ramo, a Natureza toda feliz, calma, gloriosa, e a discórdia, tumultos, e infortúnios bem distantes: nada ali havia senão beleza e majestade.


Tenho sentido também a harmonia em toda a Natureza, em todas as manifestações de Deus; tenho me olvidado da personalidade do Eu e da individualidade do ego; tenho me deixado absorver pela simplicidade e grandiosidade, não pela complexidade e maravilhas de tudo ao meu redor.


Tenho me sentado ao meio das margaridas, tentando harmonizar a minha consciência com a sua simplicidade. Colhi uma delas, e aproximei-a da minha face para que pudesse sentir seu rosto macio e inocente de encontro ao meu, e prescrutei seus olhos, sua alma.


Então (o momento será sempre lembrado) percebi a harmonia da sua forma; a graça do seu desenho, a simetria do seu corpo amarelo, a regularidade das suas pétalas, o processo do seu desabrochamento, a simplicidade da sua anatomia, e Deus falou! Através da margarida, Deus me revelou, numa linguagem clara, a sabedoria infinita de Sua mente, a superioridade dos Seus princípios e leis.


Deus falou verdadeiramente, e eu O ouvi e compreendi! Deus falou como só Deus pode falar. Poderia o homem falar como Deus fala? Ah, vaidade do pensamento! Não obstante, o homem exige que para ser ouvido e compreendido, Deus deve falar em sua linguagem limitada, por ele mesmo criada e finita, e por isso mesmo o homem não houve a voz de Deus.


O organista, dedilhando as teclas enquanto sua alma se expande e vibra em regiões mais amplas, ouve doces acordes, agradáveis notas, árias harmoniosas e eufônicas que se propagam, embora inconsciente das características mecânicas da sua execução. E ao completar um trecho de música divina, saque que Deus falou, e na maneira pela qual somente Deus pode falar.


O artista, o escritor, o escultor, têm ouvido a voz de Deus e a compreenderam, enquanto que outros buscam a Voz no lugar e pela maneira suscitada pela dúvida, pelo ceticismo, e pela “crítica superior”.


Observe o leitor o peixinho que se acha preso no aquário de cristal. Faça com que um jato de luz solar ilumine a superfície prateada da água e reflita seus raios, através do mundo em que vive, e logo notará atividade renovada. Lance algumas migalhas na água, e observe o instinto de conservação; dê uma ligeira pancada no aquário, e verá manifestada a ação instintiva de medo, lei básica da autoproteção. Estude a periodicidade com que respira na água e, depois, no ar; analise a mecânica perfeita e movimentos ao nadar, mergulhar, voltar à tona, a imobilizar-se. E ao fazer essas coisas, Deus lhe falará, e o leitor aprenderá uma lição que só Deus pode ensinar.


Prescrute o olhar da criança sequiosa de carinhos, vítima da indigência, ao apreciar as vitrinas das lojas numa época de festas. Observe a sua aceitação filosófica patética, serena, das condições que, na verdade, estão torturando e fazendo sangrar o seu jovem coração e mente. E ao fazê-lo, sorria! Pegue a criança, entre na loja, e compre para ela as coisas simples (não as complexas e luxuosas) que ela almeja e que os nossos filhos, neste século adiantado, desdenhariam; e quando aqueles olhos tristes e aflitos disserem silenciosamente, “obrigado”, saberá que Deus falou, que falou somente como Deus pode falar.


Visite um lar desolado em que o chefe da família não tenha ouvido a Voz de Deus, mas, a contrário, buscado a voz do mal; onde a mãe prematuramente envelhecida tudo faz para equilibrar a sensível diferença entre a receita e as despesas; onde a doença vitimou uma criança, não havendo meios para ministrar-lhe remédios, e onde se faz necessário alimento para o bebê que, em determinada ocasião, fez com que a mãe ouvisse a Voz de Deus; onde tudo é tristeza, numa ocasião em que há grande alegria em outros lugares.


Vá a um lar nessas condições, e não ao Templo, à Igreja ou à Catedral, para ouvir Deus falar, dê aquilo que daria com menor satisfação para si mesmo. As preces de agradecimento dessa mãe até ao leitor chegarão no silencio da noite; então, a sua alma, a sua consciência, saberão, se o leitor não o souber, que Deus falou!


Passe pela esquina de uma rua movimentada onde se localiza o menino esfarrapado que pede a todos que comprem a sua mercadoria; suas mãos estão geladas, sua fisionomia abatida. Ele tem fome também, e não obstante não poderá gastar um Cruzeiro sequer do dinheiro que sua mãe necessitará para o alimento; seus pensamentos estão concentrados na família e na irmã, sua companheira e amiga; por ela, ele alegremente sacrificaria quase tudo.


Pare, então, fale com o menino quando por ali passar, e depois prossiga em sua caminho, voltando novamente; nessa ocasião, ofereça-lhe apenas uma rosa vermelha, dizendo: “Para a sua irmão, meu rapaz, de amigo para amigo”, observe, então os olhos se dilatarem com orgulho, e se desvanecerem as tristezas, ser-lhe-á possível notar que o menino subitamente se transformará em homem, expressando a luz de Deus em sua alma. Saberá, assim, que em alguma parte da subconsciência da sua vida, Deus falou, como só Deus pode falar.


Sim, Deus fala, e comigo tem falado. Deus espera e espera até que possa falar conosco, e se nesta vida não Lhe dermos oportunidade para uma entrevista, tempo virá em que pelas tristezas, penas, e lições do passado, a nossa alma sentirá, o nosso coração compreenderá, a nossa mente ouvirá, e verificaremos que Deus falou finalmente, com Pai – para – filho.


(digitado por Luiz Carlos Nogueira – 3/2/2011)


Visite o site da Ordem Rosacruz-AMORC - http://www.amorc.org.br

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