domingo, 10 de junho de 2012

Cavalo de padeiro e um jegue tinhoso















Luiz Carlos Nogueira









Não me lembro bem, mas parece-me que eu tinha em torno de 12 anos de idade, quando o meu pai tinha uma padaria.

Pois bem, naquela época os meninos e as meninas cooperavam de boa-vontade, com os seus pais, nas lidas diárias. Não tinha esse negócio de que agindo assim comprometeriam suas infâncias e suas juventudes. Uma grande bobagem! Nós meninos e meninas, sentíamos felizes e úteis alem do que aprendíamos coisas úteis para quando na idade adulta, poderíamos utilizar como de fato estamos utilizando.

Aprendíamos a usar um martelo, um serrote, dar nós, etc. coisas desse tipo que quem não fez isso quando jovem, hoje depende de quem aprendeu a fazer e vende serviços que usam esses apetrechos ou ferramentas. 

Tínhamos nosso tempo para rever as matérias escolares, para brincar e participar das reuniões familiares que nos davam muito prazer. 

Naquela época eu até invejava (no bom sentido) alguns amigos que como diziam: “tinham carteira de trabalho de menor” e trabalhavam em algum estabelecimento comercial ou de serviços.

 Atualmente, não raro vemos muitos jovens encrencados com algo muito fácil de consertar, mas que não sabem sequer por onde começar. É a turma da Internet, do Orkut, do Facebook, do MSN, e por aí afora. Serão os futuros profissionais “meia boca” como se costuma dizer, que quando aprende, aprende pela metade e depois fazem pela metade — ou seja, não fazem nada com qualidade. Dessa turma do Ctrl + C e do Ctrl + V, que faz suas tarefas escolares nessa base é que sairão os profissionais do futuro: engenheiros, advogados, professores, médicos, etc.

Pois é, mas vamos continuar a minha história. Como vinha dizendo, naquela época as padarias, assim como os açougues, as leiterias, faziam as entregas dos seus produtos em domicilio. O condutor da carrocinha da padaria (que diziam ser o padeiro), todos os dias fazia a entrega dos pães, roscas, torradas, etc., nas casas de cada um dos fregueses. Como todo dia era uma repetição de entregas, o cavalo se acostumava a parar em cada ponto de entrega, sem que o seu condutor lhe desse qualquer ordem ou puxasse as rédeas. — A parada era automática.

Assim, todos os dias eu tinha a incumbência de levar os cavalos para o pasto. E aí começava minha trabalheira com esses animais. Cada um parava no ponto que costumava ser conduzido para a entrega dos pães. Era uma coisa de maluco até chegar ao local onde seriam deixados para pastarem. Enquanto para mim era um sufoco, por outro lado os moradores da rua se deliciavam com a minha lida. Para eles era um espetáculo. Isso tudo sem contar que depois eu tinha que conduzir só um jerico, porque junto com a manada seria impossível. Aquele sujeitinho era muito tinhoso e sabido, aliás, quem diz que jerico (jumento) é burro (burro, neste sentido significa que não sabe o que faze. É um pequeno trocadilho que faço) não sabe do que esses animaizinhos são capazes de aprontar.

Esse era talvez o espetáculo mais esperado pelos vizinhos, porque eu sabendo tratar-se de um animal manhoso, levava-o para o meio da rua, para montá-lo. Quando ele sentia que eu já estava montado, ele se dirigia para cima da calçada e raspava o seu flanco, porque sabia que eu teria que encolher uma das pernas. Ao sentir que eu não o abraçava com as minhas pernas, ele saia em disparada e eu tinha que saltar de cima dele.

A seguir eu o perseguia para apanhar a ponta da rédea, na verdade uma corda com a qual improvisava um buçal, e que era usada para colocar em volta do seu focinho, a fim de poder conduzir o animal. Quando eu conseguia apanhar a rédea do pirracento e montá-lo novamente, ele se virava e tentava morder uma das minhas pernas. Logo eu encolhia a perna que ele tentava morder. Dessa forma o jerico sabendo que eu já não estava firme em seu lombo, danava a correr e eu tinha que sair correndo atrás dele até conseguir dominá-lo.

Por fim, quando chegávamos numa baixada o jerico começava a correr comigo em cima dele. Na verdade o que ele tentava era me derrubar, pois à frente existia uma goiabeira que cresceu torta, formando um arco que o jegue queria passar por debaixo. É claro, eu tinha que saltar do lombo dele de qualquer jeito, porque a intenção dele era perfeitamente previsível.

Baseado nessa pequena história verídica e de como os “animais irracionais” procuram se livrar de quem os importuna ou molesta, as vezes eu fico matutando por que será que nós “animais políticos racionais”, continuamos permitindo que políticos, em sua maioria vagabundos, mentirosos, ladrões, gente da pior espécie, etc, continuem praticando seus atos criminosos? Somos iguais a cavalos de padeiro que toda eleição estamos ali marcando o ponto para eleger esses safados? Por que não aprendemos a lição do jegue? Precisamos tirar esses patifes do nosso lombo já que nenhum tribunal os condena, ou quando condena logo conseguem se livrar.

Um comentário:

  1. O que acontece é que permitimos aquilo que é do nosso meio, nossos semelhantes (e em tudo - o que nos falta é oportunidades) quando diferentemente do jegue que não queria um humano em cima dele.

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