Sempre
que há futebol na televisão, a minha rua anima-se. São: “hás”!, “hós!” e
Hús!”, proclamados em coro, pelos meus vizinhos; e não é raro, quando
entra a bola na baliza, passarem carros grasnando as mais disparas
buzinas.
Quando
tal acontece, recordo logo os três famosos “Fs” de Salazar – Futebol,
Fado e Fátima, – que nos meus tempos de juventude, ouvia, com respeito e
até veneração, a inflamados oposicionistas ou do reviralho, como
pomposamente eram apelidados.
Dizia-se,
pelas cafetarias, à socapa, não fosse a PIDE ouvir, que Salazar
anestesiava o povo com: Futebol, Fado e com as cerimónias realizadas em
Fátima.
Como adolescente, que era, acreditava em tudo, e pensava com os meus botões:” Que grande tratante!”
Indignava-me,
também com as manifestações, ao ver centenas de camionetas a despejarem
pessoas, que vinham de longe, a troco do passeio, cerveja e naco de
pão.
De política, nada sabia, além da “Organização Política da Nação” que aprendera no liceu.
Envelheci, e a idade diz-me que os três “Fs” são, agora praticados por aqueles que o denegriam.
Na
antiga Roma, os Imperadores e a elite, criaram o coliseu, para
divertirem o povo e anestesia-lo. Nesse circo, clamava-se a alta voz:
“Mata-o”… “Mata-o”… e havia gritos, palmas e palavras cruéis; morria-se
na arena, e esquecia-se as agruras da vida nas bancadas.
Ditadores, democratas e elite dominante, ainda hoje usam os mesmos métodos, e os escrúpulos são iguais.
Futebol, Carnaval, Música alienante, e “droga”, fazem o povo esquecer dificuldades e problemas que o atormenta.
Recentemente,
ouvi asseverar, que o futebol desenvolve a economia. Estudei Economia e
leio periódicos sobre a matéria, e nunca descobri que o desporto
resolvesse problemas financeiros de um país.
Em
Portugal, a crise começou com o Campeonato da Europa; na Grécia, após
os Jogos Olímpicos; e no Brasil, receio que a “crise” chegue por causa
do futebol.
Muitos brasileiros são de igual parecer; por isso descem à rua e intelectuais usam a pena para alertarem o perigo.
É que o dinheiro esbanjado com o espetáculo, faz falta para minorar necessidades prementes.
Infelizmente
as “massas” carecem desses incentivos para sentirem-se felizes e
“embriagarem-se“; e o poder aproveita, a fraqueza, para as manter
alienadas.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
publicado por solpaz às 11:43
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