sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A Maçonaria não é a bigorna do mundo



Por Luiz Carlos Nogueira

Membro da Loja Maçônica Novo Tempo nº 19

Filiada ao Grande Oriente de Mato Grosso do Sul



Convém inicialmente notar que os dicionários definem a bigorna com sendo uma peça de ferro com a massa central quadrangular e as extremidades em ponta cônica ou piramidal, sobre a qual se malham e amoldam metais.

Outra definição é também de que a bigorna é uma ferramenta para ajustar ferradura ao casco da cavalgadura, ou para poli-la.



Quando iniciamos nessa admirável Ordem, aprendemos que ela é um sistema de moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos, portanto, cabe a nós assimilarmos os seus ensinamentos, livres e por vontade própria, para melhorarmos como seres humanos. Pelo menos este deveria ser o anelo dos que se apresentaram nos seus portais pedindo ingresso.



Digo que cabe a nós assimilarmos os seus ensinamentos, porque a Ordem Maçônica não é a bigorna do mundo, e por isso não os impõem de forma contundente como se fosse uma ferramenta para ajustar as ferraduras aos cascos dos animais cavalares, ou até mesmo para poli-las. Nós somos seres humanos, não obstante sejamos também animais, porém com uma diferença básica ou fundamental — somos racionais, possuidores da centelha divina chamada inteligência. Por conseguinte é forçoso que aprendamos a separar o joio do trigo.



Os ensinamentos maçônicos são oferecidos para aqueles que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir. A Instituição como escola, não pode ser culpada se o aluno não faz o dever de casa e por consequência não aprende, não evolui e não se torna melhor do que era para a sociedade humana. Ninguém pode ser bom à força — para ser bom é preciso que queira. É uma questão de opção.



Ninguém herda de si próprio toda a excelsitude, toda a magnanimidade, toda a sabedoria, enfim todas as qualidades como a beleza d’alma, a força de caráter, etc, se não trabalhou para forjar o seu espírito — se nada disso construiu para si. Ora, se não herdamos nada de nós mesmos, como é que iremos inspirar, dar exemplos aos demais entes sociais com os quais convivemos?



Como culpar uma escola (dos ensinos fundamental e médio) cujos professores se esmeram para ensinar o aluno, se ele não quer aprender? Não adianta dizer que em tal ou qual escola estudaram algumas personalidades ilustres da nossa História, se o aluno pouco se dá conta da oportunidade que tem de aprender e também se tornar ilustre tanto quanto aquelas personalidades.



Os feitos heroicos de membros da augusta fraternidade, são personalíssimos e os seus louros não se transferem para qualquer outro membro, especialmente para os que se iniciaram sem terem a devida vocação para perseguir os objetivos traçados pela Maçonaria.



Da mesma forma, os atos condenáveis não podem ser transferidos para outro membro da fraternidade. Cada qual poderá, se quiser, produzir os seus feitos heroicos, filantrópicos, altruístas, ou seja lá o que for, sem fazer ostentação, que os torna mais importantes ainda em seu próprio ser, sob o impulso misto de um sentimento que vem do coração, temperado pela racionalidade, ambos desenvolvidos pelas práticas maçônicas.



Pode parecer que a metodologia maçônica esteja superada, para as mentes tagarelas (tagarelas no sentido de inquietas, barulhentas) muito próprias dos tempos modernos. No entanto, toda a alegoria, toda a simbologia e toda a ritualística foram criadas para aquietar e disciplinar as mentes, colocando-as receptivas para aplicar os materiais fornecidos na construção do nosso templo interno, sem que haja barulho algum, por analogia metafórica do templo que o Rei Salomão construiu para o Grande Arquiteto do Universo, que é Deus (1º Livro dos Reis, 6:7 – “Na construção do templo só foram usados blocos lavrados nas pedreiras, e não se ouviu no templo nenhum barulho de martelo, nem de talhadeira, nem de qualquer outra ferramenta de ferro durante a sua construção.”)



Assim é que se diz que a Arte Real trata do desenvolvimento espiritual e do conhecimento, que remete a um modo de ação, de forma que o que se sabe, reflete diretamente no que se faz, e o que se vai fazendo reflete diretamente no que se vai sabendo. Então não podemos controlar as ações dos nossos irmãos, nós é que temos que controlar as nossas, para que sirvamos de exemplo. Essa é a melhor forma de ensinar.



No entanto,



à Arte Real estão ligados dois deveres iniciáticos: a) conhecer as causas espirituais da realidade não manifestada e, b) agir materialmente, ou seja: saber, em potência e operar, em ato. A divisa alquímica ora et labora, neste aspecto, serve a título de exemplo.



Por isso, não podemos permitir que os inescrupulosos, de mau caráter, aproveitadores, gananciosos, enfim os que não tenham bons costumes se infiltrem na Maçonaria ou nela permaneçam, já que não comungam com os seus ideais.



Lembremo-nos de Jesus, e sua parábola da árvore que não dava bons frutos, conforme os versículos que seguem em Mateus, Capítulo 7:

“16 - Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?”

“17 - Assim, toda árvore boa produz bons frutos; porém a árvore má produz frutos maus.”

“18 - Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má dar frutos bons.”

“19 - Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo.”

“20 – Portanto, pelos seus frutos os conhecereis”

Outra alegoria bíblica a ser considerada como ensinamento está no: por que Jesus amaldiçoou a figueira que encontrou no seu caminho, por não ter produzido figos, uma vez que no texto de Marcos 11.13 está claro que não era tempo daquela árvore produzir frutos ?





“Mc. 11:13 E, vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos”



Ora, conforme relata a Bíblia, Jesus entrou no templo num dia de domingo, à tarde, e observou tudo ao seu redor. Logo depois, foi para Betânia, onde passou a noite. No dia seguinte, no caminho, Jesus teve fome e foi procurar frutos em uma figueira que encontrou. Como não havia frutos, amaldiçoou a figueira, que, Imediatamente, ficou seca.



Algumas pessoas ficam consternadas com esse episódio, por que entendem que foi uma atitude subjetiva e inexorável de Jesus. Afinal, por que ela agiu daquela forma? Estaria Ele irado? Por ter ficado irado teria querido exibir poder?



O historiador Marcos (11.13) faz algumas observações interessantes. — Vejamos:



Jesus quando estava passando pela estrada, viu “de longe uma figueira que tinha folhas”, e, ao examinar as folhas, “foi ver se nela acharia alguma coisa”. Porém, é preciso atentar para esse detalhe, porque, “quando ocorre a primeira maturação, as folhas ainda não estão completamente formadas (Ct 2.13)”. Então, como “chegando a ela, não achou senão folhas”. Como poderia haver folhas se ainda não havia acontecido a maturação? Os figos deveria ter saído antes das folhas! Isso se trata de uma exceção. Não achando os frutos, Jesus lançou uma sentença contra a figueira: “nunca mais alguém coma fruto de ti”. Mateus 21.19 termina informando que “a figueira secou imediatamente”.



A explicação dos exegetas para essa alegoria, é que não obstante a figueira tivesse folhas em abundância — foi como se o levasse a um engano, porque aquela figueira aparentava ser o que não era, ou seja, mostrava ser uma coisa quando, na realidade, era outra.



É assim também que acontece com alguns maçons.



Dessas alegorias extraímos duas lições:



— a primeira é que pertencemos à Maçonaria para darmos frutos à glória do Grande Arquiteto do Universo. (“Ad majorem gloria Dei”) (Rm 7.4);



— a segunda é que, uma vez constatada a inexistência de frutos espirituais no maçom, nada mais o autoriza permanecer em nossa Confraria, porque age contrário aos propósitos da Ordem que acredita na linha do bem, traçada pelo Grande Arquiteto dos Mundos.





Segundo Robert Ambelain, há razões cabalísticas indicando que o profano quando ingressa (no caso) na Maçonaria, se torna Integrado psiquicamente pela Iniciação ritual ou por adesão intelectual à sua egrégora, ou seja, torna-se uma de suas moléculas constitutivas. Ele aumentará a potência da egrégora das qualidades ou dos defeitos que possuir, e em troca, a egrégora o isolará das forças exteriores do mundo físico, e reforçará com toda força coletiva que houver acumulada de antes, os fracos meios de ação do homem que a ela se religar.



Instintivamente, a linguagem popular dá o nome de "círculo" a uma egrégora, exprimindo assim intuitivamente a ideia de circuito. Entre a célula constitutiva e a egrégora, quer dizer entre o filiado e o grupo, se estabelece então uma espécie de circulação psíquica interior.



Daí porque o desligamento de alguém de uma egrégora (no caso, da egrégora maçônica) deve ser precedido de uma cerimônia análoga, ainda que oposta em seus objetivos a aquela que assegurou sua gênese.



A Iniciação é, nesse caso, aniquilada pela excomunhão, ou seja — a expulsão mediante processo regular, que é coroado pela emissão do Quite Placet ex offcio.



No momento histórico que o nosso País atravessa, quando se tem notícia de que um ou outro membro de uma das Potências Maçônicas Regulares está sendo denunciado por envolvimento em corrupção, exige atitudes enérgicas para retirá-los da nossa convivência fraterna e sadia, sob pena de enodoarem a nossa Sagrada Instituição, com risco até de exercerem pernicioso contágio sobre alguns de seus membros.



E o que não é bom para nós, dificilmente será bom para o País e para o seu povo.

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