Luiz Carlos Nogueira
Num dos meus artigos (no meu blog) cheguei a citar um trecho de Annah
Arendt, extraído do seu livro “Condição Humana” (obra traduzida por Roberto
Raposo para a Editora Forense Universitária, 10ª Ed., Rio de Janeiro, 2005,
pág. 122), em que ela escreveu: “[...]
O poder corrompe, de fato, quando os fracos se unem para destruir o forte mas
não antes. A vontade de poder, denunciada ou glorificada pelos pensadores
modernos de Hobbes a Nietzsche, longe de ser uma característica do forte, é,
como a cobiça e a inveja, um dos vícios do fraco, talvez o seu mais perigoso
vício.”
Hoje estive pensando, e aqui não vai uma crítica à brilhante pensadora, o
que seria estupidez da minha parte, que na verdade não é exatamente quando se
está no poder é que se é corrompido. Ora não se pinta de preto o que por
natureza já é preto, ou seja, não se corrompe um indivíduo que já é corrupto. É
claro que é muito provável do poder que o indivíduo incorporar, fazer recrudescer
a sua condição de corrupto, pelas facilidades que essa condição lhe oferece.
Ora, o indivíduo corrupto procura o antro de corruptos para se dar
bem. E é exatamente por ser corrupto que procura se apossar e tomar conta do poder,
e daí empregar a sua esperteza a serviço da corrupção que por sua vez aumenta-lhe
mais ainda o poder, e por conseqüência — o seu patrimônio, além de obter
inúmeras vantagens que satisfazem seu ego de psicopata. Por acaso o diabo vai à
missa? Claro que não. Mas se por acaso ele entrar numa igreja, os fiéis é que devem
se cuidar! (aqui a comparação com o diabo é uma metáfora).
E por isso que se cometem as extravagâncias públicas,
como escreveu Adam Smith em “A Riqueza das Nações”, (Vol. I,tradução de Luiz João Baraúna para a Editora Nova
Cultural Ltda, São Paulo,Sp, 1996, pág.343), para
ilustrar:“As grandes nações nunca
empobrecem devido ao esbanjamento ou à imprudência de particulares, embora
empobreçam às vezes em conseqüência do esbanjamento e da imprudência cometidos
pela administração pública. Toda ou quase toda a renda pública é empregada, na
maioria dos países, em manter cidadãos improdutivos.”.
Dentre as extravagâncias públicas, inclui-se a
corrupção, sem dúvidas, pois caso contrário, em havendo honestidade, dedicação
e eficiência no trato do dinheiro público arrecadado dos impostos e taxas, por
sinal, altíssimos, para poder custear os festivais de sem-vergonhices, pelos
menos as extravagâncias seriam minimizadas.
Mas o maior problema que não ajuda a acabar com a
corrupção, é a certeza que os corruptos têm da IMPUNIDADE. Quando algum deles é
condenado, sempre dá um jeito para não ficar na cadeia e tampouco para não
devolver o produto das suas apropriações indébitas. Eu imagino o nosso Erário
como um saco cheio de pequenos furos, feitos por ratos.
Segundo estudos feitos pela Associação dos
Magistrados Brasileiros (AMB),
durante 18 anos, ou seja, no período entre 1988 e 2007, o Supremo
Tribunal Federal (STF)
não condenou nenhum agente político. Durante este período, o Superior Tribunal
de Justiça (STJ)
condenou apenas cinco autoridades.
A corrupção é algo que se arrasta desde a época do Império,
até nossos dias, pelos menos é isso que a História nos conta. Tudo só pode ter
começado por alguns “picaretas” que decerto não ficavam corados de vergonha
diante da sua família e amigos, quando suas falcatruas eram descobertas. Mas o
que parece todos os membros das famílias dos “picaretas”, com raríssimas
exceções achavam e acham que a corrupção era ou é uma coisa normal. Levar
vantagem deve coisa de gente inteligente e esperta. Isso foi um contágio que
veio se transmitindo de avós, pais, tios, primos, etc., para as gerações mais
novas.
Esse
pessoal (corruptos) têm sorte enorme de não terem nascido na China comunista, onde os
casos de corrupção grave são punidos pela pena de morte. No Japão existe a
pena de morte por outros crimes, mas alguns ainda praticam o ritual suicida
chamado popularmente de Harakiri que significa literalmente "cortar a barriga" ou
"cortar o estômago". Ele é feito para recuperar a honra pessoal ou
limpar o nome da família, caso essa honra seja perdida em alguma atitude
indigna,
Mas as “cobras de terno e gravata” estão soltas e debochando de todos.
Esses corruptos são dotados de uma psicopatia estarrecedora porque pelo que
tenho de informação, um psicopata não tem cura.
E para que o leitor tenha uma idéia melhor do seja um
psicopata, tomei emprestado da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, psiquiatra brasileira de renome, alguns trechos da descrição
desse tipo de indivíduo, extraídos do livro “Mentes Perigosas, O Psicopata
Mora ao Lado” – Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2008:
“É importante ressaltar que o termo psicopata pode dar a falsa impressão
de que se trata de indivíduos loucos ou doentes mentais. A palavra psicopata
literalmente significa doença da mente (do grego, psyche = mente; e pathos =
doença). No entanto, em termos médico-psiquiátricos, a psicopatia não se
encaixa na visão tradicional das doenças mentais. Esses indivíduos não são
considerados loucos, nem apresentam qualquer tipo de desorientação. Também não
sofrem de delírios ou alucinações (como a esquizofrenia) e tampouco apresentam
intenso sofrimento mental (como a depressão ou o pânico, por exemplo).
Ao contrário disso, seus atos criminosos não provêm de mentes adoecidas,
mas sim de um raciocínio frio e calculista combinado com uma total incapacidade
de tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e com sentimentos.
Os psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas,
inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o
próprio benefício. Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se
colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes,
revelam-se agressivos e violentos. Em maior ou menor nível de gravidade e com
formas diferentes de manifestarem os seus atos transgressores, os psicopatas
são verdadeiros "predadores sociais", em cujas veias e artérias corre
um sangue gélido.
Os psicopatas são indivíduos que podem ser encontrados em qualquer raça,
cultura, sociedade, credo, sexualidade, ou nível financeiro. Estão infiltrados
em todos os meios sociais e profissionais, camuflados de executivos
bem-sucedidos, líderes religiosos, trabalhadores, "pais e mães de
família", políticos etc.
Certamente, cada um de nós conhece ou conhecera algumas dessas pessoas durante
a sua existência. Muitos já foram manipulados por elas, alguns vivem
forçosamente com elas e outros tentam reparar os danos materiais e psicológicos
por elas causados.
Por isso, não se iluda! Esses indivíduos charmosos e atraentes
frequentemente deixam um rastro de perdas e destruição por onde passam. Sua
marca principal é a impressionante falta de consciência nas relações
interpessoais estabelecidas nos diversos ambientes do convívio humano (afetivo,
profissional, familiar e social). O jogo deles se baseia no poder e na
autopromoção às custas dos outros, e eles são capazes de atropelar tudo e todos
com total egocentrismo e indiferença.”
“A psicopatia nas diversas profissões
Os psicopatas não vão ao trabalho, vão à caça. Como observamos na
primeira parte do capítulo, no mundo corporativo a ação dos psicopatas pode ser
comparada a de animais ferozes na busca implacável do poder e do domínio sobre
o maior número de pessoas possível, assim como os grandes predadores fazem na demarcação
dos seus territórios.
A grande maioria dos psicopatas utiliza suas atividades profissionais
para conquistar poder e controle sobre as pessoas. Essas ocupações podem
auxiliá-los ainda na camuflagem social daqueles que não levam uma vida
francamente marginal (delinquentes mais perigosos). Muitos se camuflam em
pessoas responsáveis através de suas profissões. Nesse contexto, podemos
encontrar policiais que dirigem redes de prostituição, juízes que cometem os
mesmos delitos que os réus - mas no julgamento os condenam com argumentações
jurídicas impecáveis, banqueiros que disseminam falsos boatos económicos na
economia. Também estão alguns líderes de seitas religiosas, que abusam
sexualmente de seus discípulos, ou ainda políticos e homens de Estado que só utilizam
o poder em proveito próprio. Estes últimos costumam representar grandes perigos
pelo tamanho do poder que podem deter.
A política propicia o exercício do poder de forma quase ilimitada.
Poucos cargos permitem um exercício tão propício para atuação dos psicopatas. A
"renda" material que eles podem obter também é praticamente
incalculável, quando exercem a profissão de forma ilegal. O próprio salário
deles também é muito bom, se comparados aos salários dos executivos das
corporações privadas. E o fato de terem um foro privilegiado quase lhes
assegura de forma impune o exercício do poder com outros fins que não sejam os de
servir aos interesses da nação. Todos esses ingredientes fazem uma pizza
gostosa de comer, com possibilidade de indigestão quase nula. No Brasil, esse
fenómeno torna-se mais gritante porque a impunidade funciona como uma doença
crónica e deriva de um somatório que inclui um sistema policial deficitário, um
aparelho judiciário emperrado e um código processual retrógrado.
Esse fato pode ser facilmente verificado pelas inúmeras manchetes que
diariamente noticiam os diversos crimes cometidos por maus políticos: lavagem
de dinheiro público, formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, gestão
fraudulenta, evasão de divisas, crime de peculato, desvio de recursos de obras
públicas, envio ilegal de dinheiro ao exterior, crime contra a administração
pública e por aí vai.
A coisa chegou a tal ponto, que a palavra "política" passou a
designar precisamente esse jogo amoral no qual a igualdade é sempre
ultrapassada por pessoas que, desdenhando das leis, passam a controlá-las em
vez de zelar por elas. Ou um ritual os quais os criminosos são acusados, mas
quando são importantes, livram-se da pena porque têm comprovadas relações
pessoais e partidárias com os donos do poder. Roberto DaMatta (sociólogo).
Revista Veja, ed. 2.021, ano 40, artigo: "Sem culpa e sem vergonha",
Ed. Abril, 15/8/2007.“
“Nos próximos capítulos tentarei esmiuçar o máximo possível todas as facetas dos psicopatas. Mas antes de
chegarmos a essa etapa mais clínica sobre o comportamento dessas criaturas maléficas, gostaria de
compartilhar com você, leitor, uma dica
que julgo ser bastante preciosa: fique muito atento ao "jogo da pena"
(do coitadinho).”
“A piedade e a generosidade das pessoas boas podem se transformar em uma
folha de papel em branco assinada nas mãos de um psicopata. Quando sentimos pena estamos vulneráveis
emocionalmente, e é essa a maior arma que os psicopatas podem usar contra nós.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário