Depois de alguns meses sem escrever, encontrei um motivo para recomeçar. Uma visita a um amigo de longa data me fez refletir sobre nossas atitudes durante a vida.
Extremamente educado, trabalhador, bom pai e marido, sempre zelou por seu comportamento ético e moral em sua profissão, seus negócios e diante de toda a sociedade, tanto que minha visita tinha como finalidade, além de revê-lo, de me aconselhar comercialmente com o mesmo.
Como não conversávamos em particular há tempos, ouvi uma história de dificuldades financeiras, causadas por um contrato assinado com um banco – onde as entrelinhas diziam coisas diferentes do que entendera -, e o prejudicara muito, fazendo com que tivesse de se desfazer de vários bens adquiridos com sacrifício durante décadas, para honrar seus compromissos comerciais.
Antes de chegar a esse ponto, quando percebeu a dificuldade que o contrato o levaria, contou que procurou o banco na tentativa de realizar algum tipo de negociação que lhe permitisse saldar seu compromisso com maior prazo, pagando os juros e dando garantias, mas sem a necessidade de se desfazer de patrimônio.
Tendo suas solicitações negadas, perguntou ao gerente se sua história como cliente durante todo aquele tempo de nada valia, e ouviu que, para o banco, histórias comportamentais não existiam e o que importava era o “de agora em diante”.
Na conversa pude perceber o quanto essas palavras surpreenderam aquele homem que, por sempre ter sido honesto, esperava que isso de algo lhe valesse em um momento de dificuldade. Era inacreditável para ele que naquele momento fosse tratado por um gerente e um banco que o conheciam há décadas, em igualdade de condições dos que sempre foram desonestos.
Após ouvir seu relato, pensei em como o mundo tem sido cruel com os homens de bem. A concessão de crédito no sistema bancário ou no comércio trata todos os tomadores de empréstimos como maus pagadores e, pelo risco de não receberem, cobram de todos os juros que todos conhecem. Com a informatização, todos eles possuem acesso às listas dos maus pagadores e recentemente também dos bons, mas os juros cobrados são os mesmos.
Sempre soube que um mau negócio poderia levar o mais poderoso dos homens a enfrentar enormes dificuldades ou mesmo liquidá-lo financeiramente, mas durante a vida observei que os que passam por dificuldades sem se distanciar da honestidade, conseguem se reerguer, e normalmente, agora em bases mais sólidas.
Entretanto, com esse comportamento, os banqueiros e comerciantes estão destruindo exatamente aqueles para quem poderiam conceder crédito com riscos muito menores, criando, para eles mesmos, maiores dificuldades futuras.
Mas não são somente os banqueiros e comerciantes que poderão determinar o futuro de alguém que em determinado momento realizou um mau negócio. Outras pessoas, entidades, empresas e organizações continuam buscando caráter e honestidade em seus pares.
Creio, sinceramente, que os maiores bens a serem buscados não são os financeiros e materiais, mas a dignidade e a honra.
Um grande homem não é o que consegue derrubar os outros, mas o que, a cada queda, se levanta sabendo mais.
(*) João Bosco Leal -
jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural
e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.
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