Foto: Silvia Corbelle
Preparavas a bolsa para a escola enquanto ouvias a cantilena da
tua mãe: “Não te metas em nada porque depois te envolvem num montão de coisas”,
gritava-te da cozinha. Desse modo ias para o turno matutino da escola recolhido
em ti para que não te vissem. Soava o toque para as aulas e lá estava a
professora de história com sua versão maniqueísta do passado. Sabias que não
era como ela contava porque havias lido outras versões nos livros do teu avô,
porém te calavas… Para não enfrentares problemas.
A voz se tornou grossa e já eras soldado no serviço militar
obrigatório. Tinhas aprendido a lição de sobrevivência. Foi assim quando o
oficial vociferou e pediu maior dedicação, repetiste mentalmente “melhor não se
fazer notar”. Passar indene, não te implicar e evitar que te percebessem eram
tuas premissas nessa idade. Não deste uma idéia, não sugeriste nenhuma mudança
e teus chefes só tiraram da tua boca um estudado: ordene! Depois chegaste a
universidade onde o objetivo foi obter diploma, graduar-te sem te meter em
complicações.
Nasceram teus filhos e desde pequenos lhes lês a cartilha da
simulação. “para ver se não se destacam porque isso só traz complicação”,
aconselha-os desde que possam te entender. Com essa atuação prolongas o ciclo
da simulação em tua prole, como uma vez teus pais fizeram contigo.
Contudo, não saíste ileso. Não eras o patife que conseguiu
enganar os outros, mas sim enganaste a ti mesmo. De tanto te conteres, enfeitar
tuas expressões e evitar te pronunciares te converteste no homem medíocre que
és hoje, num ser domesticado pelo sistema.
Tradução por Humberto Sisley
Fonte: do
Blog Generación Y, da blogueira cubana Yoani Sánchez, acessado através deste
link, às 12h 11m de MSS, no dia 04/04;2014:
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