terça-feira, 12 de julho de 2011

Vejam o que acontece quando se colocam os pingos nos is



Luiz Carlos Nogueira

Meu pai costumava contar um “causo” satirizando as trocas de favores dos tempos dos coronéis da política (diga-se que incrivelmente isso ainda não acabou), para conquistar os eleitores burros, porém mal-intencionados.

Contou-me ele, que certa vez um moço de família pobre havia completado 18 anos de idade, e como havia sido dispensado do serviço militar obrigatório (para homens), precisava arrumar emprego; mas como morava em cidade pequena, sem muitos postos de trabalho, se viu desorientado.

O pai do rapaz, como já havia trabalhado em uma das eleições para um “dotô diputado”, preocupado com a situação do filho, falou com a sua mulher:

Ô Therta, acho que vô procurá o diputado “Trincaespinha” pra mô di vê si ele arruma um trabaio pro Gerso!

Uai marido, pruquê qui ocê ainda ta aqui? Vái lá ôme, que cobra que num anda num ingole sapo sô! Vê se o dotô “Trincaespinha” agora arranja um imprego prele! Finar tá na ora docê cobrá dele o trabaio qui ocê teve na campanha eleitorá dele uai!

E lá se foi seu Riobaldo à procura do “Trincaespinha”, chegando lá foi recebido muito bem pela assessoria do deputado (água gelada, cafezinho, bolacha, etc., claro, tudo com verba retirada dos impostos que nós pagamos).

Várias foram as idas e vindas de Riobaldo, porque sempre o “Tricaespinha” ou estava viajando ou inaugurando obras (que ele não fez, é claro), de uma prefeitura ou outra, ou uma ponte construída com verba estadual (que o deputado disse no discurso que se tratava da verba que ele conseguiu no Rio de Janeiro, com o Governo da República. Sim porque naquela época a Capital do Brasil era Rio de Janeiro). Ou também estava em reunião com sua base eleitoral. Enfim, mil desculpas para não atender Riobaldo (Lá vem aquele chato outra vez! Se vira inventa qualquer coisa que vou sair pela porta dos fundos, dizia o deputado).

Até que chegou um dia que a paciência de Riobaldo se esgotou. Foi direto batendo na porta do gabinete do deputado e abrindo-a abruptamente. Por acaso o deputado tinha retornado da capital (Rio de Janeiro) e estava no escritório. Foi um susto. Uai Riobaldo o que é isso? Ai Riobaldo despejou toda a sua indignação em cima do deputado “Trincaespinha”, “seu amigo”.

O deputado se explicou dizendo da sua imensa correria, a enormidade de trabalho que tinha por conta do seu cargo, mas imediatamente tomou uma folha de papel e escreveu um bilhete para o gerente da unidade de uma empresa estatal na cidade onde morava Gerson, recomendando-o para providenciar a contratação do rapaz.

Riobaldo saiu feliz com a boca aberta num riso que “ia de oreia a oreia” como diziam as pessoas do povo.

Chegando em casa disse: tai muié, vê só qui acabei conseguino! Uma carta pro gerente da Cia. Quebradeira de Pedra, evidentemente uma sociedade de economia mista, que antigamente podia admitir funcionários sem concurso público.

A filha que era professora, pediu para ver a carta. Admirada ela disse, mas olha só na pressa o deputado até se esqueceu de colocar os pingos nos is! Ora, mas não será por isso que ele passará vergonha! Colocarei os pingos nos is para ajudá-lo! E assim o fez.

Pronto, resolvido problema Gerson se apresentou na empresa, na qual foi recebido com abraços e muitas cordialidade. Foi admitido de pronto.

Passado alguns anos, o deputado foi falar com o gerente da estatal que era muito seu amigo e estava naquela empresa por conta do prestígio do deputado. Claro isso porque estava novamente na época de eleições e o deputado pretendia se reeleger. Conversa vai, conversa vem, de repente alguém bateu à porta. Era Gerson que trazia um documento que o gerente lhe havia solicitado.

Houve manifestações de contentamento de ambos, padrinho e afilhado. Feita entrega do documento e os efusivos agradecimentos de Gerson, este se retirou.

Os olhos do deputado “Trincaespinha” se injetaram, suas faces de avermelharam, quase saindo fumaça pelas narinas e pelos ouvidos, bradou:

Pô.......seu Mané ficou idiota!? O que nós havíamos combinado quando eu mandasse alguém para ser admitido? Fala aí “cara”. Como é que esse “careta” está trabalhando aí? Essa vaga era para outro!

Peraí ô “Trinca” ! Se você mandasse um bilhete sem os pingos nos is eu não deveria contratar e daria um jeito de ir enrolando até que o fulano desistisse. Não era isso??

Então o idiota é você que se esqueceu e colocou os pingos nos is!

Bom o que aconteceu depois não interessa, porque eles que eram da mesma laia que teriam que se entender.

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