Por Luiz Carlos Nogueira
Arquibaldo era um tucano mais bicudo do seu bando. Por causa do seu bico grande e collorido ele se achava muito importante. Acreditava que sabia tudo, que podia fazer tudo. Esse bicho até me lembra a história do Fernão Capelo Gaivota (do romance de Richard Bach) que queria ser diferente da maioria das gaivotas, cujo único interesse era aprender mais e mais sobre a arte de voar. Ele amava voar. Costumava dar voos rasantes que as outras gaivotas desaprovavam.
Por várias vezes Fernão se desequilibrou vindo a cair com violência nas águas do mar. Depois de muitas quedas achou de devia desistir das suas fanfarronices. Ficou muito tempo quieto depois da queda que quase lhe custou a vida, tornando-se impopular perante a bicharada, mas depois alçou voo sem pensar mais na morte ou no fracasso, descobriu que de certa forma poderia controlar a sua velocidade, chegando a atingir o recorde de 320 km por hora. Mas quando voltou para o seu bando, muito cansado, porém, exultante de felicidade, quis contar a sua façanha, mas encontrou reunidas em conselho, todas as suas companheiras que o esperavam. Assim foi chamado ao centro do círculo, e a gaivota mais velha o encheu de horror acusando-o de subversivo e irresponsável. E como castigo por ter violado a dignidade e os costumes tradicionais das gaivotas, foi banido do bando para sempre.
Assim, Fernão passou a viver desolado no ostracismo, até que um dia, já bastante envelhecido, encontrou, por acaso, algumas gaivotas que estavam voando, que como ele, no passado, buscavam desenvolver novas técnicas de voos. Assim encontrou Chiang, um velho mestre, do qual tornou-se discípulo apreciado por conta da sua grande vontade de aprender, embora fosse teimoso. Com esse mestre, Fernão aprendeu como voar no passado e no futuro, mas que, todavia, para isso precisaria desenvolver a bondade e o amor.
Para encurtar a história, numa parte do romance de Richard Bach, Fernão ainda muito aloprado e vaidoso, deve ter comido algum peixe contaminado por alguma droga, sofreu um acidente e morreu. Ao despertar no paraíso foi obrigado a ter uma conversa com a "Grande Gaivota" e optou por retornar aqui na Terra, para transmitir o que aprendeu às gaivotas, passando-lhes uma mensagem de paz, amor e igualdade.
Por consequencia Fernão se tornou também um instrutor de voos, tomando por discípulo uma jovem gaivota que se chamava Francisco e tinha a mesma petulância e rebeldia de Fernão.
Porém os mais velhos do bando, não aceitaram os ensinamentos de Fernão, ainda mais porque ele sequer tinha cuidados consigo próprio, haja vista que não foi capaz de perceber a droga que o levaria à morte. Ele pensava que era bom de bico, mas o que ele conseguiu foi afastar todas as outras gaivotas para longe. Aquela ave que ficasse perto do Fernão seria forte candidata a ser desacreditada e desprezada.
Mas dizem os estudiosos da “memética”, que essas influência das ideias tendem a evoluir e multiplicar, que no caso, não só as gaivotas estariam sujeitas ao contágio, assim como também as outras aves — os tucanos, por exemplo, que é uma ave vistosa por causa do bico grande e collorido que exibem.
Agora dá para imaginar essa ave imitando o Fernando Capelo, no caso — o nosso herói Arquibaldo (o tucano) comendo alguma fruta contaminada com as drogas dos defensivos usados para espantar os insetos?
Já imaginaram o Arquibaldo com o seu bicão, depois de um voo ousado, caindo em parafuso? Esse bicho também teria que ser banido do seu bando, sob pena de levar os outros a cometer as mesmas bobagens e criar desavenças em seu meio.
Gostaram da historinha? Eu aposto que sim, porque as pessoas que se interessam pela leitura, tem um bom nível de inteligência.
É por isso que eu adoro as fábulas e as histórias dos contos de fadas, porque elas sempre encerram um ensinamento, uma mensagem, um recado velado.
Esta história me fez lembrar de uma outra história de um outro Tucano. Um Tucano que o Arquibaldo não chegaria nem perto de seus pés, quer de lá de suas asas ou bico. O Tucano que só comeu mamão papaya, trinou seu bico fazendo-nos ouvir só estalos parecidos com estalos de dedos quando chamamos nossos cães. Esse Tucano que refiro fez pós-graduação e especializou-se em ave-de-rapina. Seus decretos assinados sem dó quase levaram o bando e a bandeira à ré.
ResponderExcluirHoje, quem tem pena do Tucano? Nem pena do rabo e nem pena das asas.
Mesmo assim Ele continua dando seus vôos rasantes e estalndo seu bico, atitude que o afasta cada vez mai de seu bando.
(rsrs)
O fato de ignorarmos os limites é que nos transforma em líderes.
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